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terça-feira, 27 de julho de 2010

NEWTON E DARCY

JOSÉ NEWTON DE FREITAS

Nasceu em Piripiri (PI), 1920. Faleceu em Teresina, 1940. Estudos secundários no Liceu Piauiense. Aluno do pré-jurídico em Fortaleza, deixou os estudos em 1937, em virtude do mal que o roubou ao convívio da família e dos conterrâneos.

Militou no jornalismo, escrevendo crônicas, estudos biográficos e poesias.

Foi sobretudo poeta de novos ritmos, um dos pioneiros da poesia moderna no Piauí. Os seus versos estão reunidos no livro "Deslumbrados", obra póstuma.

"Poeta manso como Tagore, - disse dele J. Miguel de Matos - Newton, de lira em punho, deixou versos cinzelados com mansuetude nazarena, escrevendo com a segurança dos grandes mestres".

Celso Pinheiro o viu por esta forma: “... era, realmente, uma figurinha intelectualizada de esteta, escrevendo com estilo próprio e invulgar...”.

Celso Barros Coelho estudou-o num discurso perfeito. Considera a sua poesia como mensagem, como ternura. Fala do seu equilíbrio ao escrever, do seu extraordinário poder de síntese, dos seus dotes excepcionais. Escreve que era, poetando, um descontente, nunca um revoltado, apesar das dores físicas que padeceu, ao morrer tão moço. Soube compreender o sofrimento.

Acentuou: "É assim que o vejo neste instante, como um ponto de luz a fulgurar no além e a sorrir para a terra dos homens. Sim, a terra, a sua terra foi outra fonte inspiradora de sua poesia. Queria-a farta, fecunda, produzindo o pão suficiente ao alimento de todos". E adiante: "A sua confiança no poder da natureza era grande. A miséria do nordestino ele a sentia como ninguém. Como então desconhecia o poder da técnica - tão jovem era ainda - esperava apenas pelo milagre do céu".

DARCY FONTENELLE DE ARAÚJO

Nasceu em Parnaíba (PI), 1916, e faleceu em Teresina, 1974. Bacharel pela faculdade de Direito do Recife. Promotor público em sua cidade natal. Na capital piauiense desempenhou altos cargos: deputado estadual, procurador-geral da Justiça, presidente da Junta Comercial e secretário do Governo.

Conquistou brilhantes vitórias em concursos públicos: de geografia do Brasil no Colégio Estadual do Piauí e de direito comercial na Faculdade de Direito do Piauí, integrando-se posteriormente, na Universidade Federal do Piauí, como dos seus mais acatados mestres. Prestou relevantes serviços à cátedra no ensino médio como no superior.

Jurista, publicou vários estudos de direito, conceituados pela profundeza das idéias e dos conhecimentos e pela linguagem simples e bem conduzida. Publicou "Duplicata Mercantil". "Inflação Monetária e sua influencia nos Preços e Salários". Muito elogiada a tese "A Desertização do Nordeste Brasileiro e do Vale do Parnaíba" - trabalho valioso de geografia física, econômica e humana.


A. Tito Filho, 19/12/1989, Jornal O Dia.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

PATRÍCIO FRANCO

A 10 de abril deste 1989, a Academia Piauiense de Letras perdeu o titular de sua cadeira 31, José Patrício Franco, nascido no povoado Porto Alegre do município de Jerumenha (PI) a 14 de setembro de 1906. Pobre, trabalhou nas cidades de Uruçuí e Floriano como caixeiro e professor municipal. Seria depois guarda-livros no longo período de 14 anos. Em Teresina, fixou-se em 1942. Escriturário, contador, gerente e diretor do Banco do Estado do Piauí, no qual se aposentou na qualidade de funcionário no ano de 1969, mas permaneceu como membro do Conselho de Administração. Exerceu marcantes atividades políticas, sociais e culturais. Vereador de Teresina por duas legislaturas. Pertenceu à Associação Brasileira de Municípios, participou de muitos congressos municipais no Brasil e um no exterior, nos Estados Unidos. Criou jornais e colaborou constantemente na imprensa. Um dos fundadores da Associação Profissional dos Jornalistas do Piauí. A 30 de janeiro de 1979 ingressou na Academia Piauiense de Letras. Publicou vários estudos de história, destacando-se "História do Banco do Piauí", "O Município no Piauí", "Capítulos de História do Piauí". Escreveu também poesia. Pertenceu a várias e ilustres instituições culturais.

José Patrício Franco deixou exemplos de muitas virtudes. Teve infância humilde e pobre. Desde cedo conheceu a luta para a sobrevivência. Exerceu modestos empregos. Venceu pelo trabalho e pela honradez. Leal e correto nas amizades que conquistou. Autodidata de rara dedicação ao estudo e a pesquisa, conquistou respeito e admiração. Dedicava profunda afeição à família, por cuja tranqüilidade e bem-estar padeceu sacrifícios e enfrentou graves problemas, armado de um caráter puro e grande tenacidade. Sereno e sincero, soube, de conquista em conquista perseverante nos esforços, alcançar posição de relevo em todos os círculos sociais de Teresina. Esteve sempre solidário, em todas as circunstancias, com a sua Academia Piauiense de Letras, que ele honrou mercê de exemplar vida pública e privada. Os seus colegas acadêmicos o tinham na conta de um companheiro da mais alta compostura na convivência saudável de todos os dias.

 
A. Tito Filho, 19/05/1989, Jornal O Dia.

terça-feira, 20 de julho de 2010

PIAUIENSES

ANTÔNIO BONA

Nasceu em Campo Maior (PI), 1887, e faleceu no Rio de Janeiro, 1965. Pais: Honório Bona Sobrinho e Maria Eugênia da Silva Bona. Bacharel pela Faculdade de Direito do Recife (1909), com notas distintas em todas as matérias. Fixou-se no Maranhão: promotor em Viana; em São Luis foi delegado de Polícia, secretário particular do prefeito, inspetor federal junto ao Liceu Maranhense, professor de Direito Internacional Privado e de Direito Civil da Faculdade de Direito. Advogado de intensa atividade. Em 1931, desembargador do Tribunal de Justiça do Maranhão. Mereceram louvores os seus trabalhos de jurista. Ainda em São Luis, redigiu "A Pacotilha", de 1914 a 1920, e exerceu o cargo de secretário-geral do Estado na interventoria Antônio Martins de Almeida, que lhe atribuiu o estudo da reforma da justiça estadual. Esteve no Amazonas (1912) e na Europa. Mais de uma vez visitou a cidade natal. Foi um dos precursores da criação do Banco Central. Conhecia as linguas francesa, inglesa, italiana e alemã.

HONÓRIO PORTELA PARENTES

Nasceu em Colônia de São Pedro de Alcântara, hoje Floriano (PI), em 1882, e faleceu em Caxias (MA), 1909. Pais: Honório Parentes e Ursulina Portela Parentes. Formado pela Faculdade de Direito do Recife (1906). Fiscal federal junto ao Asilo dos Alienados de Teresina, cargo de que se exonerou por divergência com o governo estadual. Desde estudante, revelou capacidade de ter e de defender idéias. Jornalista de grande cultura, tomou parte na luta político-religiosa que se travou na capital piauiense, escrevendo com o pseudônimo de Gansos do Capitólio. Incorreu no desagrado de muitos, inclusive do governador. Polemista e critico. Armando Madeira lhe fez o elogio ao tomar posse na Academia: "Era exímio cultor da língua vernácula, tinha estilo elegante e castiço, e tudo quanto escrevia, valioso pelas idéias, revelava apurado gosto pela forma". Publicou "Vacina e vacinação contra a varíola", em que defende a descoberta de [Edward] Jenner.

SIMPLÍCIO MENDES

Nasceu em União (PI), 1882, e faleceu em Teresina, 1971. Bacharel pela Faculdade de Direito do Recife (1908). Juiz de Direito em comarcas do interior do Piauí, por cujo eleitorado se elegeu deputado estadual. Um dos fundadores da Faculdade de Direito do Piauí e seu professor catedrático de teoria geral do Estado e lente [?] de Direito Constitucional. Exerceu outros elevados cargos públicos na capital piauiense: diretor da Imprensa Oficial ao tempo de sua criação; membro do Tribunal Regional Eleitoral, Juiz de Direito, membro e presidente do Tribunal de Justiça, chefe de Polícia, diretor da Casa de Anísio Brito (Museu e Arquivo Público do Piauí), presidente do Conselho Estadual de Cultura. Como presidente da Academia Piauiense de Letras, realizou importantes reformas, inclusive a que aumentou as cadeiras de 30 para 40. Teve notável e projetada atuação na imprensa de Teresina. Conferencista erudito. Jurista de merecido conceito. Cultivou estudos sociológicos e filosóficos. Em 1934, publicou a monografia "O homem, a sociedade, o direito", trabalho cultural realizado com raríssimo talento de indagação. Simplício Mendes foi grande animador da vida artística e literária do Piauí.

A. Tito Filho, 04/10/1989, Jornal O Dia.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

OS BONS TEMPOS

Cléa Rezende Neves de Melo nasceu nas terras piauienses de Piripiri, filha de um casal que permanece na minha memória e no meu coração: Osíris Neves de Melo, jornalista de mérito e poeta de profundas concepções, e Maria Alice Rezende Neves de Melo, uma santa, inesquecível amiga. Foram meus compadres. Muita estima dedico a três dos muitos filhos do casal - Alice Áurea, Osíris Filho e a autora deste livro. Participam de minhas memórias da adolescência e de permanente amizade.

Passei em Piripiri instantes dos brincos da infância, quando conheci João de Freitas Filho, avô de Cléa. Inteligência privilegiada, professor, admirável fazedor de poesias líricas, sentimentais e satíricas. Honrado e bom. Amigo leal e devotado à comunidadezinha onde vivia cercado de admiração e respeito.

Nestas memórias se projeta a personalidade de quem as escreveu - garota do seu tempo, com profundo sentimento da vida, boa companheira, sensível, alegre e dedicada aos estudos desde os primeiros anos. Venceu. Fez cursos sérios, como o de língua e literatura espanhola em Salamanca, na Espanha. Triunfou por virtude do mérito. Abrilhanta a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Distrito Federal como professora-coordenadora de língua e literatura espanhola e hispano-americana e da Fundação Educacional de Brasília como professora de literatura brasileira.

A ilustrada universitária agora confeccionou o retrato humano da sua cidade interiorana, cujas ruas e becos lhe povoam a memória e a saudade. Não esquece as brincadeiras meninis, as conversas de calçada, a paisagem em mudança. Faz o desenho das pessoas, de modo natural. Usou estilo simples e observou fidelidade aos fatos. Compôs crônica viva de uma época que desapareceu na varagem de uma civilização industrial mortificante, mas na compostura do livro soube abdicar do espírito das cousas antigas, antes oferece nas presentes páginas lições de alegria, adolescência e mocidade. Temperou o trabalho das melhores virtudes, a leveza e a graciosidade. Em cada página e acontecimento, o sal dos gestos da vida.

Cléa pôde ouvir até o silencio das cousas de Piripiri - e assim praticou com sabedoria, para o testemunho do amor à terra em que nasceu.


A. Tito Filho, 17/11/1989, Jornal O Dia. 

domingo, 18 de julho de 2010

A BATALHA

Foi das mais sangrentas a batalha do Jenipapo, às margens do rio do mesmo nome, em Campo Maior, dia 13/3/1823. Embora vitorioso, Fidié viu-se obrigado a seguir para Caxias, baluarte português. Três meses o comandante português resistiu ao cerco de seis mil brasileiros, comandados por Filgueiras e Sousa Martins: "Resisti - diz ele - até o último apuro, tirando do campo inimigo, a ponta da baioneta, os víveres, precisos para sustentar a minha tropa, cheia de fadiga". Manuel de Sousa Martins havia proibido gado para o Maranhão.

A Independência no Piauí e no Maranhão - salientou Hermínio Condé - é uma epopéia que não encontra similar em qualquer das campanhas emancipadoras dos povos americanos.

Em 1973, o governador Alberto Silva homenageou, com as forças armadas, no local do combate do Jenipapo, a memória dos que alí se sacrificaram, 150 anos atrás. No seu discurso, lembrou o governante a lição correta: "Fidié fora mandado ao Brasil para compor, com os outros militares portugueses destacados no norte, o dispositivo que garantiria a Portugal o domínio de tão vasta porção do brasileiro. Dominadas pelos portugueses as fazendas de criar do Piauí, estariam independentes baianos privados de suprimento e de tão vital suprimento estariam igualmente privados as demais províncias. É fácil entender a importância, para a coroa portuguesa, de fazer abortar, ou de esmagar a ferra e fogo, o movimento dos independentes no norte do pais, onde quer que se manifestasse."

A respeito da batalha do Jenipapo manifestou o governador que nela "os nossos ancestrais, lutando, sofrendo e morrendo, decretaram e selaram definitivamente a derrota das armas e das ambições portuguesas, em relação ao norte do Brasil."

É necessário lembrar que no sul a independência foram aplausos e festas. No norte, fome e sangue. A batalha do Jenipapo decidiu a unidade brasileira.


A. Tito Filho, 10/03/1989, Jornal O Dia.  

quarta-feira, 14 de julho de 2010

O LIVRO NO FUTURO GOVERNO

No tempo do Piauí-Província, quando faleceu José Coriolano, os amigos do poeta quiseram homenagear-lhe a memória, publicando as suas poesias românticas, cujo conjunto recebeu o nome de IMPRESSÕES E GEMIDOS. Não sei se o governo participou das despesas. No Piauí-República, o governador Anísio de Abreu faz a edição da CRONOLOGIA HISTÓRICA DO ESTADO DO PIAUÍ. Leônidas Melo mandou publicar, na Imprensa Oficial, obras de João Pinheiro, Higino Cunha, Celso Pinheiro, moura Rego, Martins Napoleão e de outros intelectuais piauienses de renome, numa das mais brilhantes fases da vida literária da terra. Adiante, Pedro Freitas mandou que as oficinas do Estado editassem o interessante trabalho que o engenheiro Sampaio escreveu sobre as nossas possibilidades econômicas. Outro governante, Helvídio Nunes, patrocinou a publicação de algumas obras aplaudidas.

Chegaria o primeiro tempo de Alberto Silva, época em que o setor da comunicação se confiou a um sujeito de valor, apaixonado pelas cousas do Piauí, chamado Armando Basto, que idealizou o PLANO EDITORIAL, convocando-se uma plêiade de prosadores ilustres. Era o ano de 1972. Um dia recebi chamado de Armando, que autorizava nova edição de LIRA SERTANEJA, e o trabalho, feito na Companhia Editora do Piauí, saíra com imperfeições, por engano do organizador da obra de Hermínio Castelo Branco. Inutilizaram-se os mil exemplares confeccionados. Recebi a tarefa de preparar edição segura, e o fiz, confiada a Deoclécio Dantas; que superintendeu a valiosa publicação, à qual juntei humildes ensinamentos sobre o vocabulário sertanejo empregado pelo autor.

Armando Basto me determinou que preparasse outras obras. Aceitei a incumbência com a condição de me ocupar somente de autores mortos, ou de trabalhos sérios a respeito de assuntos históricos e sociais da terra piauiense.

Entreguei os originais a Deoclécio, que dirigia, com raro devotamento, a Companhia Editora do Piauí, e os livros foram publicados, com primorosa revisão, reunindo as concepções de autores notáveis como José Coriolano (reedição), Esmaragdo de Freitas, Zito Batista, José Lima Pires Rebelo.

Armando pretendeu que mais livros se fizessem, e assim se confiaram novas edições a empresa editora do Rio de Janeiro, de cujas oficinas saiu outra vez a famosa CRONOLOGIA HISTÓRICA DO ESTADO DO PIAUÍ, de Francisco Augusto Pereira da Costa. Orientamos, Armando da Costa, Deoclécio Dantas e eu, a publicação de umas quarenta obras, admirável esforço para divulgar os autores piauienses, entre os quais Odilon Nunes, nas PESQUISAS PARA A HISTÓRIA DO PIAUÍ.

Interessante ressaltar que as obras dessa fase administrativa do Piauí confiaram-se ao público e as instituições GRATUITAMENTE, dentro como fora do Estado.

Torna-se necessário que se acabe no Piauí com a triste e viciosa praxe de o governo pagar a edição e o autor vender os exemplares da obra publicada ao próprio governo.

O assunto merece mais considerações. O nosso intuito está em oferecer ao futuro governador subsídios que sirvam à administração para incentivar corretamente a cultura no Estado.


A. Tito Filho, 24/01/1991, Jornal O Dia. 

terça-feira, 13 de julho de 2010

O PIONEIRO

João Maria Broxado, conhecido, no seu tempo por Juca Broxado, gozava de muita popularidade. Trabalhador, inteligente, tinha iniciativas arrojadas. Em 1906, principiou a organizar uma companhia de telefones em Teresina. O jornal "O Monitor", de 1 de novembro daquele ano, escrevia que o plano do ativo industrial vinha contando com o apoio de figuras do governo, comerciantes e diversas classes sociais. Os aparelhos do novo melhoramento da capital piauiense se haviam encomendado no Rio de Janeiro.

A 2 de maio de 1907, a mesma folha de imprensa noticiava que os jornalistas examinaram o "importante maquinismo" considerado, por pessoas entendidas, de "ótima qualidade".

Uma semana depois, funcionavam várias linhas, contando-se que a inauguração se daria a 13 de junho, o que de fato aconteceu, segundo reportagem de "O Monitor", edição de 20 junho de 1907: "instalou-se, no dia 13 do corrente, a empresa telefônica dirigida pelo tenente-coronel João Maria Broxado, operoso industrial da nossa praça. A cerimônia começou às 4 horas da tarde com grande concorrência de pessoas seletas. Cortada a fita emblemática pelo senador Anísio de Abreu, o tenente-coronel Joca Broxado fez a comunicação oficial ao Exmº Sr. Governador do Estado, trocando-se depois muitas saudações entre os assinantes da empresa, cujas casas estavam ligadas ao aparelho central".

Governava o Piauí o Dr. Álvaro de Assis Osório Mendes. Discursaram na solenidade Anísio de Abreu, Higino Cunha, Fenelon Castelo Branco e Abdias Neves, entre outros ilustres intelectuais da terra.

A iniciativa recebeu o nome de Empresa Telefônica e funcionou possivelmente até 1918.


A. Tito Filho, 07 de outubro de 1989, Jornal O Dia. 

segunda-feira, 12 de julho de 2010

POESIA E FICÇÃO

* Júlio Antônio Martins Vieira nasceu nesta adorável Teresina, no ano de 1905. Ingressou na Escola Militar do Realengo, no Rio de Janeiro, transferindo-se para Porto Alegre. Deixou a carreira militar por virtude das rebeliões tão comuns nesse conturbado tempo da politica nacional, e voltou à terra natal. Um dos fundadores do Cenáculo Piauiense de Letras, prestigiosa instituição de intelectuais fundada na década de 20 e que teve curta duração. Professor de várias disciplinas em estabelecimentos de ensino secundário da capital piauiense. Mestre acatado dos estudantes, deu tudo de si ao magistério. Jornalista combativo e corajoso, ilustrou as colunas de jornais e revistas de Teresina. Utilizava-se quase sempre do humorismo à inglesa para o ataque aos adversários. Conferencista. Cultivava deliciosa e fina ironia. Das mais notáveis vozes da poesia piauiense, mereceu elogiosos conceitos de Menotti Del Picchia. Escrevia com profundo respeito à correção da linguagem e a propriedade estilística. Alguns autores lhe definiram o talento literário.

Mário Baptista disse dele que sabia escrever como poucos em prosa e verso. Vidal de Freitas via nos seus escritos uma suave harmonia.

Escreveu "Getuliadas", critica a ditadura de Getúlio Vargas, versos camonianos publicados na imprensa, "A Ceia dos Sovelas" (teatro), paródia, e "Canto da Terra Mártire", obra épica, de profundo telurismo, à qual se juntou algumas de suas melhores análises literárias.

Faleceu em 1984, capital piauiense.

* Jonas Fontenele da Silva. Nasceu em Parnaíba (PI), 1880, e faleceu em Manaus, 1947. Diplomou-se em odontologia. Na capital do Amazonas exerceu o jornalismo e cargos de relevo. Publicou três livros de poesias, denominados "Anfora", "Ulanos" e "Czardas". Simbolista de versos às vezes iconoclastas. Poemas brilhantes, com variação de cor e de beleza dos grandes poetas. A morte ocupou lugar primacial na obra de Jonas.

* Amélia de Freitas Bevilaqua. Nasceu em Jerumenha (PI), 1861, e faleceu no Rio de Janeiro, 1946. Foi casada com o grande jurisconsulto Clóvis Bevilaqua. Cultivou o jornalismo escrevendo crônicas. Dedicou-se sobretudo a compor romances e contos. Entre outras obras, publicou "Alcione", "Silhuetas", "Angustia", "Vesta", "Açucena", "Jeannette". Estilo de encantadora simplicidade.


A. Tito Filho, 05/11/1988, Jornal O Dia.      

quarta-feira, 7 de julho de 2010

ODYLO FILHO

Nasceu em São Luís do Maranhão, a 14.12.1914. Pais: Odylo de Moura Costa e Maria Aurora Alves Costa. Estudou em dois educandários de Teresina: Colégio Coração de Jesus e Liceu Piauiense (hoje Colégio Estadual Zacarias de Góis). Bacharel pela Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (1933). Secretário de Imprensa da Presidência da República (governo Café Filho). Superintendente das Empresas Incorporadas ao Patrimônio da União (Rio). Adido Cultural da Embaixada do Brasil em Lisboa (1965-1966).

Grande jornalista. No Rio, foi redator do "Jornal do Comércio", fundador e diretor da "Política de Letras", diretor de "A Noite", "Tribuna de Imprensa", e da revista "Senhor", diretor de redação de "O Cruzeiro". Trabalhou no "Diário de Notícias" e chefiou a redação de "Jornal do Brasil". Secretário do "Cruzeiro Internacional". Dirigiu a Rádio Nacional. Diretor de redação da Editora Abril. Em São Paulo, diretor de "Realidade". Articulista exímio. Ressuscitador de jornais mortos - conforme ao batismo de Rachel de Queiroz.

OBRA

Editor de "Seleta Cristã" (1932). Estréia literária: "Graça Aranha e Outros Ensaios" (1933), prêmio Ramos Paz, da Academia Piauiense de Letras; "Livro de Poemas de 1935", em colaboração com Henrique Carstens; "Distrito da Confusão", artigos de jornal, em que criticava a ditadura de 1937; "O Balão que Caiu no Mar", peça infantil; "Tempo de Lisboa e Outros Poemas", "Cantiga incompleta". Novelas: "A Faca e o Rio", "A Invenção da Ilha da Madeira", "Conto de Natal: história de seu Tomé meu pai e minha mãe Maria". Escreveu vários ensaios políticos de pulso, entre os quais, "Salazar: agonia e queda".

Como se vê, Odylo foi com invulgar grandeza, jornalista, teatrólogo, autor de literatura infantil, conferencista, romancista, cronista, crítico literário e poeta. Nesta última condição está incluído por Manuel Bandeira no rol dos poetas bissextos, que ofereciam concepções de tempos em tempos. Duas grandes dores – a perda da filha e do filho Odylo Neto, este em circunstâncias trágicas, desabrocharam nele uma série de poemas admiráveis, como salientou Manuel Bandeira.

Ressalte-se que o Piauí e o Maranhão vivem permanentemente na obra de Odylo.

Odylo ingressou na Academia Brasileira de Letras em 1969. Recebendo-o, Peregrino Júnior lembrou que nele havia ainda o cronista ágil, fluente, a vocação dramática, o teatro de diálogo ágil, de ternura e graça. Sustentou que o novo acadêmico detinha todos os segredos da técnica do verso. Cada soneto que escreveu é uma obra-prima – escreveu.

Nome completo: Odylo Costa Filho. Faleceu no Rio de Janeiro.


A. Tito Filho, 12/10/1988, Jornal O Dia.  

segunda-feira, 5 de julho de 2010

INJUSTIÇA II

Na recuperação do Theatro 4 de Setembro, promovida no primeiro governo Alberto Silva, conservaram-se os aleijões feitos a partir de 1952. Suprimiram-se mais uma vez as elegantes áreas arborizadas dos dois lados do prédio, conforme determinou a planta original do engenheiro Alfredo Modrack. Desta feita, construiram-se um salão de exposições, de um lado, e de outro, ao que parece, compartimento de livraria e um boteco de muita animação, que funciona até madrugada alta. Enfim, isto se chama Piauí.

Para os serviços de recuperação houve o apoio de dois grandes piauienses: Deolindo Couto, nascido em Teresina, a maior expressão da neurologia nacional, e João Paulo dos Reis Velloso, nascido em Parnaíba, famoso economista, duas vezes ministro de governos republicanos.

Nas comemorações do centenário de uma promessa, pois a 4 de Setembro de 1889 ao menos havia pedra fundamental, homenageou-se o grupo dos atuais proprietários do Teatro, esquecendo-se os que, no presente e no passado, por ele trabalharam. Deolindo Couto e Reis Velloso não chegaram a ter os nomes citados entre os benfeitores da querida casa de espetáculos. Só os dois? Não, muita gente passou em brancas nuvens nas festas insossas que agora se fazem.

Entre os 21 homenageados na solenidade do dia 4 de setembro último, figura, segundo o jornal "O Dia", edição de 6 de setembro, o nome BUGYJA BRITTO, e a razão da homenagem: AGITADORA CULTURAL JÁ FALECIDA.

Que quer dizer AGITADOR? Promotor de perturbações da ordem. Tem variada significação, entretanto, o verbo AGITAR, como discutir com veemência, ventilar, inquietar, perturbar. A homenageada nunca exerceu tais atividades. Trata-se de ANA BUGYJA BRITTO, a quem os promotores das festas citaram apenas como BUGYJA BRITTO, senhora que eles desconhecem inteiramente. Foi uma das mais brilhantes professoras de meu tempo, maestrina consagrada, grande pianista, mulher admirável como esposa e mãe e que tanto alegrou o antigo solar de Karnak com execuções de músicas clássicas, ao tempo do barão Castelo Branco.

Pessoas que se dedicaram ao Theatro 4 de Setembro, de corpo e alma, sem ganhar (um) tostão, foram tristemente, injustamente, perversamente esquecidas pelos atuais HISTORIADORES e DONOS do querido e outrora centro cultural de Teresina.


A. Tito Filho, 11/09/1989, Jornal O Dia.

domingo, 4 de julho de 2010

INJUSTIÇA I

Faz muitos anos vivo em Teresina. Para esta cidade vim nos meus oito anos de idade. Comecei a freqüentar o Theatro 4 de Setembro em 1933, quando, pelos esforços do interventor Landri Sales, teve início o cinema falado na capital piauiense, confiado aos irmãos Ferreira, Alfredo e Miguel. Adolescente, a velha casa de espetáculos representava a minha diversão predileta, os filmes de caubói e os de aventura.

Nunca li cousa alguma sobre a história do Teatro, nem jornal, revista ou livro. Eram desconhecidos os fatos sobre essa entidade querida dos teresinenses, aqui e ali aleijada pelo desamor de alguns, ou ambições de outros.

Inaugurado em 1894, o 4 de Setembro tinha, de ambos os lados, áreas arborizadas e cercadas de grades de ferro. Serviam à ventilação e facilitavam o escoamento das pessoas, em caso de incêndio. Pois bem. No primeiro centenário da cidade, em 1952, arrendou-se a área da direita, que, derribada, cedeu lugar a um restaurante, transformado em boteco de cachaçadas com o andar do tempo. Liquidou-se a área do outro lado e nela se ergueu uma construçãozinha de dois pavimentos: no de baixo, venda de guloseimas, no superior, jogatina dia e noite. Ó progresso, quantos crimes se cometem em teu nome?

Em 1970, já não era possível freqüência ao Teatro. Dele se afastaram senhoras e senhoritas. Insuportável fedentina. Cadeiras quebradas. Desrespeitos da molequeira presente aos filmes constantes de faroeste.

O primeiro governo de Alberto Silva (1971-1975) enfrentou o problema. Havia necessidade de que o velho Teatro voltasse a ser o centro da vida artística dos teresinenses. Retornar-se-ia ao passado, numa meritória homenagem aos antepassados, aos que alegraram as inesquecíveis noites teresinenses de outrora.


A. Tito Filho, 09/09/1989, Jornal O Dia.