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segunda-feira, 7 de maio de 2012

CIDADE SEM LEI


"Cidade sem lei" é um filme que não há muito passou no Rex. Quem assistiu ao mesmo e observa o que está se passando em Teresina no que diz respeito à ordem pública e à insegurança dos cidadãos, há de convir que a Capital piauiense é também, hoje em dia, uma cidade sem lei. Nos perímetros urbano e suburbano dão-se frequentes roubos e furtos; a jogatina mais desenfreiada campeia em todos os recantos de Teresina; legiões de mendigos - verdadeiros e falsos - invadem lares, cafés e restaurantes do centro da cidade; e até loucos, falando sozinhos e soltando pinotes, perambulam pela praça rio Branco e ruas adjacentes; das oito horas da noite em diante, a praça Rio Branco transforma-se em cabaré ao ar livre, pois na mesma se aglomeram dezenas de meretrizes; e, em pleno coração da cidade, na praça Rio Branco, quando considerável massa popular se concentrava às dez horas da manhã do dia 2, desenrolou-se a mais triste cena que se pode contemplar numa cidade civilizada, que é capital dum Estado da Federação.

José Pascoal, de espingarda em punho, acompanhado dum capanga, armado também de espingarda, dirige-se ao "Café Avenida" para atirar no negociante Antonio Couto, diretor de "A Folha", quando este estava de guarda a um cartaz do seu jornal que, na véspera, havia sido rasgado por José Pascoal.

Não entramos em detalhes sobre a questão de José Pascoal com o diretor de "A Folha".

O que nos cabe é condenar a indiferença criminosa da polícia do Sr. Rocha Furtado diante de tais fatos humilhantes e vergonhosos aos nossos foros de civilização.

O que nos cumpre dizer ao nobre povo de Teresina é que se acautele dos valentões e sicários que infestam a cidade, a sôldo do governo e de figurões da U.D.N., pois os mesmos agem com a cumplicidade da Polícia do sr. Rocha Furtado, o homem que se considera santificado em vida e vive, em Karnak, em constantes extasis infernais...

Mêses atrás, no Bar Americano, Demerval Lobão e o deputado João Carvalho agrediram covardemente o jornalista Amandino Nunes; há um mês, mais ou menos, o diretor-redator da "Resistência", jornalista Walter Miranda, recebeu inopinada e selvagem agressão de Gomez Lima, correligionário e protegido do diretor da Fazenda; e, por último, Teresina foi teatro da mais revoltante tragi-comédia, cujos protagonistas foram o José Pascoal, o seu capanga e o Couto.

A palhaçada guerreira do primeiro e o "passo de ganso" do último em direção do automovel proporcionaram agradáveis minutos de diversão a muita gente que estava na praça... Só se ouviam gargalhadas, gritos, chacotas e assobios. No momento do ataque dos bravos carabineiros, havia, na Praça, alguns policiais, que a tudo assistiram passivamente. Os agressores foram desarmados por populares.

Ambos desapareceram do local calmamente, como se nada houvesse acontecido.

Desdobrou-se, então, ali, a mais legítima cena do Far West norte-americano... Consta que a Polícia não apreendeu as armas do Pascoal e do capanga, nem tão pouco os incomodou. O Couto, ainda cansado, pálido e apreensivo, é que, uma hora depois do ocorrido, reapareceu no "Café Avenida" e la se sentado numa das bancas, a quem pediu garantias de vida, mas a resposta foi uma aspera repreensão...

E o Pascoal, horas depois, já andava na rua exibindo revolver na cinta e conduzindo um relho crú no bolso para surrar o Couto e o Mundico Santídio. Que confiança pode inspirar, portanto, ao cidadão de Teresina, sobretudo sendo adversário do governo, a Polícia do sr. rocha furtado?

Então, só a gente do governo e da U.D.N. é que tem dignidade e sensibilidade moral? Quantas ofensas e injúrias graves não teem sido atiradas contra os ilustres membros do Tribunal de Justiça do Estado, contra o Cel. Gaioso e os drs. Leônidas Melo, Pires Gaioso, Mario Batista, Claudio Pacheco, Edgar Nogueira, Santos Rocha, etc? E Eurípedes de Aguiar, João Cavalcante, Ofélio Leitão e os demais escrevedores do "O Piauí" já tiveram, por causa disto, a cabeça rachada e a costela quebrada?

Só a gente do governo, através do seu pasquim, é quem pode descompor à vontade e ofender quem quer que seja?

Logo depois da bravata do Pascoal e da fuga do Couto, o chefe de Polícia, desembargador Simplício Mendes, ao Café Avenida, completou a comédia da manhã bradando, entre arrogante e colérico, que sua autoridade não seria desrespeitada e que não admitia desordens, nem arruaças.

Ora, sr. desembargador Simplício, para que desacato maior as autoridades do que o assalto manu militari feito pelo Pascoal e o seu façanhudo capanga, na praça mais movimentada da cidade e na presença de centenas de pessoas!? Nunca houve em Teresina afronta maior à sociedade do que a praticada pelo Pascoal, no dia 2 transato. Afronta esta com a conivência ou pelo menos beneplácito da Polícia, pois os autores da tentativa de morte contra o comerciante Antonio Couto até agora nada sofreram.

No instante em que o Pascoal se afastava do "Café Avenida", o Milton Aguiar abraçou-se com ele e o acompanhou todo risonho e satisfeito. Teresina, bem como todo o Piauí, está, pois, sem governo, sem lei, em completo regime de anarquia e de falta absoluta de garantias para qualquer cidadão, principalmente para aqueles que se opõem ao governismo piauiense, cuja figura central é Rocha Furtado - lacaio mór de Eurípedes de Aguiar.


A. Tito Filho, 05/11/1949, Jornal A Resistência, página 5-6

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