Quer ler este texto em PDF?

sábado, 6 de novembro de 2010

VELHO MESTRE

João Pinheiro nasceu em Barras (PI), 1877. Faleceu no Rio de Janeiro, 1946. Formou-se em odontologia na Faculdade de Medicina da Bahia. Tornou-se profissional em Teresina, de muita clientela, na época em que instrumentos de tratar dos dentes funcionavam no pedal. Chegou a criar e vender o PÓ IDEAL, dentifrício aromático.

Seguiria, porém, novos rumos. Repudiou o boticão. Passou ao magistério e logo se tornou mestre acatado de português no tradicional educandário do Estado. Dedicou-se a atividades intelectuais, estudioso de nossa história e de nossa vida literária. Publicou inicialmente poesias líricas. Entre outros trabalhos escreveu uma história da literatura piauiense, fixando-lhe os primórdios, os autores respectivos, analisando as obras que publicaram. De cada qual transcreve os trechos mais significativos que deixaram. Talvez o primeiro estudo organizado sobre o assunto. Limitou-se aos autores mortos.

Dirigiu o Liceu Piauiense, numa das fases mais agitadas do educandário. Pulso forte e seguro. Tive-o como professor de português. Muito entendia dos clássicos brasileiros e portugueses. Conhecia profundamente "Os Lusíadas", de Camões, obra que adotava para o ensino da análise sintática. Nessa época de ouro de sua vida exemplar, a estudantada lhe conferiu o apelido de MÃO DE PACA, em virtude do ligeiro defeito da mão direita, alcunha que também pertencia a proprietário de órgão de imprensa em Teresina.

Exerceu o jornalismo, escrevendo em diversos periódicos da capital. Pertenceu ao Instituto Histórico e Geográfico do Piauí. Um dos fundadores da Academia Piauiense de Letras, sobre esta publicou interessante resumo histórico.

No terreno da ficção, pertenceram-lhe dois livros de contos: "A-toa" e "Fogo de Palha". Serviu-se de lendas ou acontecimentos reais piauienses. Retrata com talento caracteres físicos e reproduz a fala sertaneja sinceramente. Bem feitas as descrições de cenários naturais.

Andaram de modo correto os titulares da Secretaria da Cultura quando instituíram o concurso de contos denominado "João Pinheiro", justa homenagem a este homem de sentimento da terra dos seus antepassados.

Sempre apreciei o meu querido mestre, de alma tranqüila e forte, de boníssimo coração. Virtuoso e correto. Digno sobremodo. Escritor regionalista. Cristino Castelo Branco via-o na qualidade de exímio contador de sugestivas estórias, conteur adorável, dos melhores que possui o Brasil.

João Pinheiro foi homem de bem e de apurada inteligência.


A. Tito Filho, 21/06/1988, Jornal O Dia. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário