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domingo, 21 de novembro de 2010

A TESE DE HIGINO

No 1º Congresso de Imprensa do Piauí, a irrecusável autoridade de Higino Cunha se assentou sobre o estudo social e político do Piauí para dividir a história da imprensa entre nós em três períodos. Inicia os comentários a respeito de Oeiras, e na antiga capital os jornais se limitavam a publicação dos atos do governo e a baixos xingamentos nas pessoas. Não defendiam planos administrativos. Abdias Neves referiu-se aos repulsivos pasquins metidos pelas portas e janelas alta noite. Higino sustentou que a imprensa não podia medrar nesse ambiente, pois não formava opinião, mas apenas gerava ódios e despeitos. Contra o Visconde da Parnaíba houve panfletos violentos.

Abdias Neves disse que os jornais desses primeiros tempos viveram pouco. Eram plenos de ofensas pessoais e não respeitavam ao menos a vida privada dos cidadãos.

Com a transferência da capital para Teresina, surgiu na cidade fundada por José Antonio Saraiva "A Ordem", de vida breve.

O autor da tese acha que nos últimos tempos do Império e primeiros da República, a imprensa avançou, progrediu. Deu-se o esforço para o jornal diário. Cultivaram-se idéias mais nobres, criou-se o serviço telegráfico e deu-se o uso de clichês. Diminuiu a virulência de linguagem. Este seria o segundo período, em que aparecem Davi Caldas, Deolindo Mendes da Silva Moura, Coelho Rodrigues, Agesilau Pereira da Silva, José Manuel de Freitas e outras altas expressões. A imprensa já obrigava que os governos se defendessem das censuras que lhes eram dirigidas.

Higino admite que o terceiro período começa por volta de 1910. Surgiram em Teresina intelectuais que alcançariam triunfos merecidos: Antonino Freire, Abdias Neves, Miguel Rosa, João Pinheiro, seguidos de Valdivino Tito e Matias Olímpio, que iniciaram a luta contra a mentalidade do meio. Fundaram "A Pátria", que chegou a ser diário, audacioso e de idéias originais. "Memoráveis as campanhas que eles sustentaram, na imprensa local, em prol dos interesses materiais, morais e intelectuais do Piauí". Dessa época é a Academia Piauiense de Letras, com a sua revista espalhando boa prosa e boa poesia. Clodoaldo Freitas e o próprio Higino Cunha formavam a retaguarda desses revolucionários, entre os quais Luis Mendes Ribeiro Gonçalves e Lucidio Freitas.

Nessa fase nova da imprensa travou-se a séria luta entre os maçons e os padres católicos.

Estudando a imprensa do Piauí, nessas três fases em que procura definir-lhe aspectos desde Oeiras até as festas dos centenários da Independência do Piauí (1922/1923) conclui o mestre: "Os jornais diários que aqui vão aparecendo, quase sempre nas vésperas de lutas eleitorais, têm tido todos existência precária e instável. Só o governo conseguiu fixar definitivamente o Diário Oficial".

Higino reconhece que a tese está incompleta. Falta-lhe a fixação de vários aspectos, com os atentados sofridos - espancamentos, crimes, prisões violentas praticadas contra jornalistas.

Depois tocaremos no assunto.


A. Tito Filho, 20/05/1988, Jornal O Dia.

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