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terça-feira, 30 de novembro de 2010

PROSA BONITA

Menino do Bandolim, de Tobias Pinheiro. Livro que revela o poema da infância e da mocidade. Bandolim é o nome do engenho de moer cana, no Brejo dos Anapurus, Maranhão, sítio de peraltices e de inspiração desse eterno enamorado das coisas simples e bonitas, que é Tobias.

Os cenários se vão transformando, página por página. Agora, São Luís, as primeiras letras, a palmatória, as visitas ao Piauí, pois o autor é piauizeiro - gente que nasce noutro lugar e se encanta pelos rios em que se banha Teresina.

E os episódios surgem, tirados de uma memória de guardar coisas ternas, espiritualmente ternas: o Natal e a Semana Santa. Personagem de encantamento: a vaca Baié. Gente de fazenda de gado sempre há de contar estórias de uma vaquinha paciente, de leite gostoso, espumante, manhã cedo. E aparece o saudoso poeta, nosso Mário Bento, guardador de pássaros e jumentos em gaiola, dono de uma poesia de humildade e plenitude.

Nada se esquece no livrinho danado de emoções: a praça Rio Branco, tão tranqüila e maledicente, o folclore piauiense, a economia do Maranhão, a viagem ao estrangeiro para ver Dacar, no Senegal, quente como diabo, mas onde pontifica um poeta divino, o presidente Senghor. E Lisboa, a do fado, da bacalhoada e do vinho generoso como o coração de sua gente.

Tobias me roubou uma madrugada de sono, mas lucrei. Lucrei lembranças, lucrei estilo, lucrei prosa que sabe a gestos de eternidade.


A. Tito Filho, 18/12/1988, Jornal O Dia.

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