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segunda-feira, 19 de julho de 2010

OS BONS TEMPOS

Cléa Rezende Neves de Melo nasceu nas terras piauienses de Piripiri, filha de um casal que permanece na minha memória e no meu coração: Osíris Neves de Melo, jornalista de mérito e poeta de profundas concepções, e Maria Alice Rezende Neves de Melo, uma santa, inesquecível amiga. Foram meus compadres. Muita estima dedico a três dos muitos filhos do casal - Alice Áurea, Osíris Filho e a autora deste livro. Participam de minhas memórias da adolescência e de permanente amizade.

Passei em Piripiri instantes dos brincos da infância, quando conheci João de Freitas Filho, avô de Cléa. Inteligência privilegiada, professor, admirável fazedor de poesias líricas, sentimentais e satíricas. Honrado e bom. Amigo leal e devotado à comunidadezinha onde vivia cercado de admiração e respeito.

Nestas memórias se projeta a personalidade de quem as escreveu - garota do seu tempo, com profundo sentimento da vida, boa companheira, sensível, alegre e dedicada aos estudos desde os primeiros anos. Venceu. Fez cursos sérios, como o de língua e literatura espanhola em Salamanca, na Espanha. Triunfou por virtude do mérito. Abrilhanta a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Distrito Federal como professora-coordenadora de língua e literatura espanhola e hispano-americana e da Fundação Educacional de Brasília como professora de literatura brasileira.

A ilustrada universitária agora confeccionou o retrato humano da sua cidade interiorana, cujas ruas e becos lhe povoam a memória e a saudade. Não esquece as brincadeiras meninis, as conversas de calçada, a paisagem em mudança. Faz o desenho das pessoas, de modo natural. Usou estilo simples e observou fidelidade aos fatos. Compôs crônica viva de uma época que desapareceu na varagem de uma civilização industrial mortificante, mas na compostura do livro soube abdicar do espírito das cousas antigas, antes oferece nas presentes páginas lições de alegria, adolescência e mocidade. Temperou o trabalho das melhores virtudes, a leveza e a graciosidade. Em cada página e acontecimento, o sal dos gestos da vida.

Cléa pôde ouvir até o silencio das cousas de Piripiri - e assim praticou com sabedoria, para o testemunho do amor à terra em que nasceu.


A. Tito Filho, 17/11/1989, Jornal O Dia. 

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