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domingo, 4 de julho de 2010

INJUSTIÇA I

Faz muitos anos vivo em Teresina. Para esta cidade vim nos meus oito anos de idade. Comecei a freqüentar o Theatro 4 de Setembro em 1933, quando, pelos esforços do interventor Landri Sales, teve início o cinema falado na capital piauiense, confiado aos irmãos Ferreira, Alfredo e Miguel. Adolescente, a velha casa de espetáculos representava a minha diversão predileta, os filmes de caubói e os de aventura.

Nunca li cousa alguma sobre a história do Teatro, nem jornal, revista ou livro. Eram desconhecidos os fatos sobre essa entidade querida dos teresinenses, aqui e ali aleijada pelo desamor de alguns, ou ambições de outros.

Inaugurado em 1894, o 4 de Setembro tinha, de ambos os lados, áreas arborizadas e cercadas de grades de ferro. Serviam à ventilação e facilitavam o escoamento das pessoas, em caso de incêndio. Pois bem. No primeiro centenário da cidade, em 1952, arrendou-se a área da direita, que, derribada, cedeu lugar a um restaurante, transformado em boteco de cachaçadas com o andar do tempo. Liquidou-se a área do outro lado e nela se ergueu uma construçãozinha de dois pavimentos: no de baixo, venda de guloseimas, no superior, jogatina dia e noite. Ó progresso, quantos crimes se cometem em teu nome?

Em 1970, já não era possível freqüência ao Teatro. Dele se afastaram senhoras e senhoritas. Insuportável fedentina. Cadeiras quebradas. Desrespeitos da molequeira presente aos filmes constantes de faroeste.

O primeiro governo de Alberto Silva (1971-1975) enfrentou o problema. Havia necessidade de que o velho Teatro voltasse a ser o centro da vida artística dos teresinenses. Retornar-se-ia ao passado, numa meritória homenagem aos antepassados, aos que alegraram as inesquecíveis noites teresinenses de outrora.


A. Tito Filho, 09/09/1989, Jornal O Dia. 

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