Carlos Castelo Branco contou, neste falecido mês de junho, como faziam os índios, setenta castanhas na sua vida vitoriosa. Publicou, além de um livro de interpretação politica, "Continhos Brasileiros" e o romance "Arco do Triunfo". A persistente atividade jornalística, de invulgar brilhantismo na análise de homens e episódios, abriu-lhes as portas da Academia Brasileira de Letras: "Chego à Academia como jornalista", disse ele ao tomar posse no mais cobiçado sodalício do país.
Observador penetrante, ora tímido, ora revoltado, misterioso ou controlado, sempre põe a nu a imagem dos instantes precários e dos ricos em respeito ao homem. Sabe clarear caminhos, denunciar mistificações e advertir os incautos e desinsteligentes. Não usa enfeitações. Ensina nas entrelinhas aos bons de entendimento. Muita claridade no estilo. Odylo Costa, filho, considerou-o a primeira voz do jornalismo político brasileiro. Efetua o jornalismo-história, o que exige isenção e abole atitudes passionais. Honesto e corajoso. Não azinhava a consciência na bajulação.
Quando foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, telefonou ao pai, o magnífico Cristino Castelo Branco, caráter sem nódoa, e disse, revivendo a criança que está na gente o tempo todo:
- Papai, eu fui eleito.
Cristino orgulhou-se do triunfo do filho, que era também o triunfo do pai, cuja presença de Deus se avizinhava, não era permitido que ele, carregado de mais de noventa anos, assistisse à posse do novo acadêmico.
Dois piauienses e um quase-piauiense haviam atingido a Academia Brasileira de Letras: José Félix Alves Pacheco, Deolindo Augusto de Nunes Couto e Odylo Costa, filho, os dois primeiros nascidos em Teresina. Antes do vôo mais alto, porém, ingressaram na Academia Piauiense de Letras. Partiram da Casa de Lucídio Freitas para a casa de Machado de Assis. Mestre Carlos praticou o contrário: ingressou na modesta e humilde Academia Piauiense de Letras depois da conquista da outra, a Brasileira. Quis ser fiel à lição de Cristino Castelo Branco: "A Academia da terra natal é sempre a melhor das Academias".
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Na Academia Piauiense de Letras outros pertenceram a duas Academias: Clodoaldo Freitas (Maranhense), Alarico da Cunha (Maranhense), Jonas Fontele da Silva (Amazonense), Taumaturgo Sotero Vaz (Amazonense), salvo falha memória.
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Em Carlos setentão existe outra imensa virtude: o amor a Teresina. Numa de suas visitas recentes À cidade natal escreveu: "Hoje é quase estranha para mim. Na parte antiga movimento os meus fantasmas e onde me sinto a vontade, quando passo por lá, para dialogar com elas".
Sim, já não existem os bairros de forrós, cheirantes ao suor da mulatiçe gostosa das mulheres teresinenses. Do buraco da Velha, dos Cajueiros, da Catarina resta a visão doce e evocativa como se fora poesia do coração chorando.
A. Tito Filho, 21/07/1990, Jornal O Dia.
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