Dirigimos o Colégio Estadual do Piauí, o velho e querido secundário fundado por Zacarias de Góis e Vasconcelos, no Piauí-Província, hoje com o nome do fundador - dirigimo-lo no período de 1954-1958, e dele guardamos proveitosa experiência: os moços são bons, amigos sinceros e gostam das atitudes sérias e da ordem, da disciplina consciente, do estudo e da convivência. Desviam-se do caminho certo quando por parte dos adultos recebem a lição da sem-vergonhice, da desonestidade, da desfaçatez, do inescrúpulo, do cinismo. Existiram, pois, maduros transviados, e o transviamento do jovem se daria por através daqueles.
No enterrado mês de setembro de 1987, decorreu o primeiro centenário de nascimento de Raimundo Zito Batista, poeta de bonitas concepções líricas, nascido em Natal, povoado de Teresina, depois unidade piauiense autônoma com o batismo de Monsenhor Gil. Estudiosos universitários dessa simpática comunidadezinha, antigo quartel de Luiz Carlos Prestes no cerco da capital piauiense, demonstraram que a mocidade tem riqueza cívica e espiritual - e criaram a Associação Universitária de Monsenhor Gil, cujas primeiras atividades se voltaram para reviver a figura do poeta Zito Batista, e o fizeram de maneira exemplar, num debate sobre a poesia do homenageado, e deram à luz plaqueta em que se reuniram comentários de boa cepa de talentosos estudantes conterrâneos do centenariante - critica literária do melhor conceito. J. Cardoso do Nascimento Junior, Mario Medeiros, Joaquim Campelo Filho, Carlos Alberto Pessoa prestaram serviços valiosos à literatura piauiense, em analise e interpretação de uma obra vasta e complexa, ao mesmo tempo em que viveram instantes de glória do infeliz e angustiado versejador.
Raras instituições piauienses se lembraram de Zito Batista. Sabemos de duas: a Academia Piauiense de Letras, que divulgou a vida e obra do poeta pelo jornalismo, e a promissora Associação Universitária de Monsenhor Gil, com o apoio e a solidariedade da Secretaria de Educação e da Casa de Lucídio Freitas.
A novela nacional pelas tevês não permite que se conheçam a inteligência e o poder criativo dos piauienses mortos. Melhor a educação para a ignorância aprendendo-se que Édipo-rei não passou de reles contrabandista de pedras preciosas.
Graças a Deus Sófocles está vivo - porque os mortos, na sentença de Grieco, não raro mais vivos que os vivos, como a contribuição dos jovens de Monsenhor Gil provou.
A. Tito Filho, 06/11/1987, Jornal O Dia.
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