Andava eu pela adolescência quando conheci Esmaragdo de Freitas, a quem meu pai dedicava profunda admiração. Gostava Esmaragdo de uns dedos-de-prosa com colegas julgadores, na praça Rio Branco, de Teresina, boca da noite. Ali o vi muitas vezes. Sério, grave, homem cara-de-poucos-amigos, mas de imenso coração, de muita bondade. Impoluto e escrupuloso. Devotou aos semelhantes grande parcela do seu valor, orientando os moços com exemplos de rígido caráter, ora auxiliando os que, por fraqueza, incorriam na censura ou na condenação pública.
Era traço da sua personalidade: não humilhar. Lembra-me que, em 1946, se reunia, no Rio, em sessão secreta, a Assembléia Constituinte. Os legisladores discutiam caso de sensação, escandalizado pela imprensa, que nele via atentado sério ao decoro do parlamento brasileiro. Nessa reunião de portas fechadas, os congressistas advogavam a cassação do mandato do parlamentar faltoso. Bastou, porém, que Esmaragdo, sempre tão calado e reservado, condenasse a atitude dos colegas, para que estes, apercebidos do senso de suas ponderações, cedessem à força de autoridade daquele que as pronunciava.
* * *
Estudante no Rio, em 1945, vi de perto os acontecimentos políticos que empolgavam a nação: entrevista de José Américo de Almeida, de condenação ao regime ditatorial chefiado por Getúlio Vargas - a entrevista célebre com que se reconquistou a liberdade de pensamento; a candidatura do brigadeiro Eduardo Gomes, de Eurico Dutra, de Yedo Fiúza e de Mário Rolim teles à presidência da República; a queda de Vargas, noite de 29 de outubro de 1945; a posse de José Linhares, presidente do Supremo Tribunal, na chefia do governo; finalmente, as eleições de 2-12-1945, com a vitória de Dutra. O notável Esmaragdo recebia a consagração dos piauienses elegendo-se senador da República.
A. Tito Filho, 14/04/1989, Jornal O Dia.
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