Monsenhor Joaquim Chaves, o Padre Chaves, como ele gosta de ser chamado, faz muitos anos que se dedica de corpo e alma à igreja do Amparo, a primeira de Teresina, a igreja do seu amor. Sacerdote virtuoso, coração de bondade e sentimento, venera-o a paisagem teresinense, a que ele tem doado o melhor de uma vida de trabalho espiritual intenso, rezando missa, batizando menino, casando noivos, confessando pecadores, confortando fieis. Todos gostam das práticas religiosas que ele realiza, pois nelas gasta apenas os instantes preciosos, com o que exonera a gente da freguesia de demoradas cerimônias e prédicas puxadas. Adota receita segura para não prejudicar a paciência do próximo, ao mesmo tempo em que se põe sempre solicito e amigo, leal e correto, inexcedível no querer bem aos outros.
Ao lado da piedade, debruça-se sobre a pesquisa histórica, persistente, sustentado por capacidade de observar, e desse esforço surgiram escritos de valor, úteis, honestos, rico patrimônio para repasto dos estudiosos. O seu livro sobre Teresina, que se incorporou às festas comemorativas dos primeiros cem anos da cidade como documentário expressivo, lembra as fases iniciais da capital piauiense, as ruas, os cafés, os furdunços carnavalescos, as manifestações religiosas, os episódios cívicos, o telegrafo, barco de vapor, a higiene, a policia, as escolas, os passeios de cavalo, enfim o que ia nascendo, o que se ia criando, os passos inaugurais dos costumes e do progresso da comunidadezinha plantada pelo conselheiro José Antônio Saraiva, o fundador. E os forrós. E os serenos de baile. E a discurseira laudatória nos banquetes e bródios. Quantas cousas antigas, com cheiro de mofo, o bom do padre buscou em registros velhos e delas fez obra saborosa.
Neles o pesquisador preocupa-se sobretudo com a verdade e tem coragem de assentá-la e escrevê-la. As lições dos seus livros constituem fonte segura para conhecimento de variado aspecto da história do Piauí, que ele expõe e analisa com critério. Oferece estilo plástico, prosa ágil, sabe reviver o passado e os homens que o construíram, e as criticas de forma imparcial e cuidadosa.
De mim, julgo-o historiador sereno, hábil, metódico, às vezes irreverente, apoiado sempre sobre invulgar capacidade de discernir e interpretar.
Teresina tem bons historiadores, como Pereira da Costa, Clodoaldo Freitas, Higino Cunha, para citar alguns mortos ilustres. Dos vivos, muitos são os pesquisadores dos acontecimentos que se verificaram na cidade criada por José Antônio Saraiva, entre os quais Julio Romão da Silva, que recompôs a fundação da cidade num estudo sério e fiel a verdade.
O padre Chaves não se preocupou apenas com os episódios da vida histórica e politica da cidade que tem o nome de gente nobre, foi além, revelando, em livro curioso, aspectos sociais e pitorescos da cidadezinha tranqüila e afetiva. Antes dele, preocupado somente com os costumes do fim do século XIX, só Abdias Neves, num romance naturalista.
A. Tito Filho, 21/12/1990, Jornal O Dia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário