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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

GENTE ORIENTAL

Moysés Castello Branco Filho realça a presença, de sírios e libaneses em Teresina, no princípio do século XX, dedicados aos comércio de miudezas e de modas. Principalmente sírios. Sírios na quase totalidade. Vinham de longe, da Síria, onde é gritante o contraste entre a riqueza e a pobreza. O padre Luciano Duarte diz que lá a terra tem cor amarela, queimada de calor. "Não há vegetação. Apenas areia e pedra - mas de repente, sem lógica, no meio do quadro - um oásis. O milagre da água correndo, límpida e cantante, da fonte que Deus fez brotar, vestindo de verde a terra nua, estendendo a sombra das palmeiras para os homens cansados".

A Síria lembra Damasco, "a Damasco de ruas apertadas do comércio de miudezas, quiosques, ruelas escuras e sujas, em que o visitante sempre compra pela metade do preço. Paga e sai com ares de quem ganhou uma batalha. E o sírio lá ficou, impassível, contente, pois o preço pago, ao cabo de contas, ainda vale três ou quatro vezes a mercadoria".

Terra de contrastes, de povo inteligente e trabalhador - não estará nisto uma das razões pelas quais os sírios tão bem se localizam no Nordeste, comungando com os nordestinos as angústias da terra que se povoa, de milhares e milhares de miseráveis nascidos nestes pedaços de Brasil?

Os sírios e libaneses assimilaram nossos costumes, hábitos e vivencias, e integraram-se na sociedade teresinense casando-se, multiplicando-se, educando a prole, progredindo pelo trabalho e valorizando o chão que os abrigou fraternalmente.

Dos árabes em geral disse Gustave Le Bon: "Uma grande urbanidade e doçura, uma grande tolerância com os homens e as cousas, a calma e a dignidade em todas as situações e circunstâncias e uma notável moderação de necessidades, tais são os traços característicos dos orientais. Sua conformação moral com a vida, tal como ela se apresenta, dotou-os de uma serenidade muito semelhante à ventura, ao passo que as nossas aspirações e necessidades fictícias nos tem levado a nós a um estado de inquietação permanente muito diferente do deles".

Na história do cinema em Teresina muitos nomes são dignos de notar, como Nauman, Bluhm, R. Coelho, R. Fontenele, Pedro Silva, José Ommati (sírio) e de Farid Adad, também sírio, que fixou residência em Parnaíba (1919) e ali, com o irmão Miguel fundou o cinema Eden. Em 1930 esta casa exibidora iniciava a era do filme falado da capital piauiense, inaugurando-o em 23.12.1933. A 25.11.1973, encerraram-se as atividades cinematográficas na velha casa de espetáculos da praça Pedro II. Farid havia falecido no ano anterior. A cidade o conhecia pelo nome de Alfredo Ferreira, casado em primeiras núpcias com Farisa Salim Issa, sua patrícia, de excepcionais virtudes deixou vários filhos.

Depois de Alfredo Ferreira, outros empresários prosseguiram no trabalho de dotar Teresina de confortáveis cinemas.


A. Tito Filho, 06/12/1988, Jornal O Dia.

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