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quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

POESIA

Vale à pena a gente ler os bons poetas, para alimentação do espírito e da inteligência. Dante escreveu versos maravilhosos. Mostrou a maldade, a injustiça, a cupidez no século XIII. Para ele a corrupção provém dos maus governos, assertiva absolutamente verdadeira. Que dizer de Camões? No seu extraordinário poema sobre Portugal, compreende com invulgar inteligência os fenômenos históricos e coloca na dependência do dinheiro a moral, a amizade, o amor, a virtude. Condenou a parcialidade dos legisladores e reagiu contra o desumano mundo feudal. Em Shakespeare existe conjunto homogêneo de imorredoura poesia, inspirada em temas populares. Não esquecendo os males do capitalismo. Revela constantemente a falsidade das mulheres fúteis. Mostra a inutilidade da violência e condena as ditaduras.

Demonstra o papel do vil metal na submissão dos pobres pelos ricos. Milton no Paraíso Perdido torna-se delicioso quando se volta contra as desigualdades sociais. Poeta de todos os séculos. Byron exigiu uma sociedade igualitária. Imenso esse Walt Whitman, norte-americano. Lúcido, fez poemas para as massas populares, cantou-as, lutou contra a escravatura. Amava as prostitutas, as pobrezinhas dos bordéis que se obrigavam ao triste comércio da carne. Gonçalves Dias, cantor maranhense do índio e da floresta, fez poesia cheia de mar e de lirismo.

Gosto de Edgar Allan Poe, que sofria de enfermidade da dúvida. Nostálgico. Amava o álcool. Nunca vi poder mental de tamanha imaginação. Admiro o Manuel Bandeira, de grande capacidade de sofrimento nas febres, nas hemoptises, nas dispnéias, nos suores noturnos, na tosse - na tuberculose insuportável mas geradora de criações permanentes na história brasileira.

O Piauí possui poetas que me fascinam. Não vou citá-los por medo de ser injustos, esquecendo alguns dos que julgo da melhor criatividade.

*   *   *

Leio agora as poesias, reunidas em livro, sob o titulo Exíguas, do padre Osvaldo Chaves, cearense, poeta como poucos, e que me encantou de lirismo emotivo e sobremodo da inteligência superior para colocar os versos a serviço de temas sociais do passado e do presente - aqueles temas que ele tira das imagens da própria infância, dos cenários da terra, na descrição das cidades loucas dos novos tempos, no sofrimento do homem explorado, no civismo, nos exemplos cristãos, na crença espiritual, nas terríveis angustias do mundo guerreiro e noutros temas da vida.

Sacerdote cristão, os versos de Osvaldo Chaves ganham mais beleza quando se impregnam da religiosidade simples dos que tem fé, dos que fazem a caridade e guardam esperança em Deus.


A. Tito Filho, 22/03/1988, Jornal O Dia.

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