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quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

MALVADEZA

Não se pretende escrever a história da luz elétrica em Teresina, mas cabe a lembrança de alguns acontecimentos. Esse melhoramento de natureza social esteve, a principio, com empresa particular. A 17 de março de 1910, o banquete oferecido a Antonino Freire já recebia esse tipo de iluminação de Veloso, Santídio e Companhia. Só em 1914, no governo Miguel Rosa, o Estado assumia os encargos de proporcionar a eletricidade aos teresinenses. Engenheiro da Siemens, o cidadão R. Becker dirigiu os trabalhos. Máquina tipo Diesel. Dois geradores, três mil volts. Era domingo, 10 de maio, quando se deu a primeira experiência.

Corria o tempo. De vez em quando, as máquinas falhavam e a cidade passava à escuridão. Leônidas Melo, no seu longo período de governo, realizou reformas na usina. Vitorino Correia, major-interventor, adquiriu na Europa turbinas moderníssimas, que o governador Rocha Furtado, com duros sacrifícios, mandou montar e a capital passou a receber luz forte e boa. Depois de certo período, esse benefício, foi substituído.

Criou-se faz uns trinta ou mais anos o Instituto de Águas e Energia Elétrica, repartição dirigida pelo Estado do Piauí, origem de Centrais Elétricas do Piauí, Sociedade Anônima, companhia estatal conhecida pela sigla CEPISA, hoje alimentada pela poderosa Boa Esperança.

Tenho dito e repetido que Teresina possui apenas progresso material. De longuíssima data vegeta nos mais tristes e insolentes atrasos urbanísticos. Constroem-se mansões nos bairros ditos luxuosos, onde os marajás afrontam a miséria de habitações desumanas, mas nessas áreas inexiste um metro de esgoto. Ainda a cidade se serve dos matos adjacentes ou de buracos residenciais para os aperreios fisiológicos.

Urbanizar significa civilizar. A urbanização compreende um conjunto de processos materiais, espirituais, psicológicos, bom gosto e outros, que tornem as comunidades aprazíveis, de forma que a gente nelas se sinta feliz, satisfeito, no gozo de permanente bem-estar.

Faz poucos dias jovem e competente professor buscava a residência, pouco depois de meia-noite, onde teria o aconchego da família. Pois bem. No caminho, guiando a sua motocicleta, foi colhido por um fio da rede elétrica da famosa CEPISA e teve morte imediata, no meio da rua. Os jornais noticiaram o episodio, como cousa corriqueira, comum, que não causa estranheza. A quem responsabilizar pela perda de vida útil, pelas dores e aflições familiares? Pela irresponsabilidade de longa data na segurança das pessoas que percorrem as ruas de Teresina? Ninguém assume responsabilidade. O sujeito morreu, ganhou terra nos peitos, a vida prossegue, como se a cidade gostasse dessas tragédias.

Urge que a CEPISA retire esses fios perigosos das vias públicas e desembolse dinheiro para garantir a vida alheia. Verdadeiros cipoais cruzam Teresina, quando nos dias que correm a rede elétrica deve ser invisível.

Quantas pessoas a CEPISA já matou, irresponsavelmente?


A. Tito Filho, 07/10/1988, Jornal O Dia.

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