Quer ler este texto em PDF?

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

IMPRENSA

Já escrevi sobre a imprensa de Teresina do século passado e as suas diversas fases. Os jornais de noticiário oficial e de registros de aniversários, óbitos, casamentos, nascimentos, noivados, viagens e viajantes. Surgiria a publicidade de escravinhas e escravos fugidos, passeios a cavalo, mercadorias parisienses, restaurantes. A politica passional, de ódios e malquerensas, iniciou dentro de pouco tempo o processo da xingação. Os correligionários não tinham defeito, os adversários padeciam toda sorte de acusações. Ao lado dos artigalhões desrespeitosos, publicavam-se produções de poetas e prosadores. No começo do século, polêmicas animadas de erudição constituíam a principal matéria para um público ainda pequeno de leitores. De modo geral as batalhas jornalísticas se travavam entre católicos, numa trincheira, e na outra os livre-pensadores, materialistas, ateus consumados, maçons. A imprensa cada vez mais melhorava de aspecto gráfico, mas a violência da linguagem politica persistia. As primeiras grandes reportagens se publicaram sobre a morte do professor Jarrinha, do motorista Gregório e do juiz Lucrécio Dantas Abelino, assassinados. Na década de 30, Cláudio Pacheco com o primeiro jornal de feição moderna, sobretudo caracterizado por uma linguagem nova, sem as costumeiras verrinas contra adversários. Campanhas políticas vibrantes se faziam por candidaturas à constituinte nacional e estadual entre 1934 e 1935. O oficial dos poderes públicos melhorava os processos de confecção, adotando linotipos. Tornou-se também noticioso, com a publicação de fatos da vida politica e social do Estado e todo o Brasil, transmitidos por via telegráfica. Chegaria 1937, com a feroz ditadura de Getulio Vargas e arrolhamento da imprensa até 1945, quando José Américo de Almeida rompeu a severa censura imposta a jornais e jornalistas e desencadeou-se a luta pela presidência da República e por assento na assembléia constituinte inaugurada em 1946. O Piauí participaria dessa luta de políticos dos vários partidos criados, e entre dois deles se repartiam as preferências dos piauienses - o governista, também chamado Partido Social Democrático e o oposicionista de nome União Democrática Nacional. Em Teresina vieram a tona dois jornais, que abrigavam artigos severos, fortes, apaixonados contra os homens da facção contrária. Voltava-se aos velhos tempos. Não se poupavam as lideranças partidárias. Esses caminhos vigoraram a partir de 1945 e persistiram durante umas duas décadas ou mais. Desde a fundação de jornais em Teresina até a década de 60, jornalista não recebia vintém pelo que escrevia.


A. Tito Filho, 11/09/1988, Jornal O Dia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário