Teresina tem seus cento e trinta e cinco anos, desde que na cidade circulou o primeiro jornal. E durante mais de um século, as nossas folhas periódicas não gastavam com o trabalho de noticiaristas e redatores, ou com poetas e prosadores que publicavam produções literárias nos órgãos de comunicação.
Faziam-se os jornais catando nas pranchas letra por letra, cada tipo era um desenho do alfabeto e havia tipos destinados aos sinais de pontuação. Um trabalho dos diabos. Publicavam-se os atos do governo, anúncios de novidades, notícias de viajantes ilustres que saiam da cidade e que a ela retornavam. O público recebia um prato recheado, que muito o contentava: os terríveis xingamentos entre homens de partidos adversários, de ladrão para pior. Nada se respeitava, ao menos a vida privada dos cidadãos. Salvavam-se as mulheres, que estas eram inxigáveis, sob pena de correr sangue.
Nos primeiros tempos do novo século deu-se a luta entre nações e ateus de um lado, do outro o clero católico - luta que teve raízes na Escola do Recife, em que se projetara Tobias Barreto e Silvio Romero, para citação dos maiorais. Travavam-se polemicas acirradas e que se perderam nas páginas dos órgãos de imprensa desse agitado tempo teresinense, sustentadas por Clodoaldo Freitas, Higino Cunha, Abdias Neves, dos mais ilustrados, e por padres abnegados na defesa dos ideais cristãos sobressaindo Joaquim de Oliveira Lopes - lutador sereno, imperturbável, no julgamento criterioso de Cristino Castelo Branco, que conta: "A tais extremos chegou a luta, que o sacerdote foi injuriado e agredido dentro da igreja de Nossa senhora do Amparo, no púlpito, quando pregava".
Conta Cristino que os estudantes acreditavam que ser católico equivalia a ser burro. No romance "Um manicaca", Abdias Neves pôs na boca de personagem a afirmativa: "Nem todo burro é católico, mas todo católico é burro". Havia muita paixão, circunstância que cegava os homens e levava-os a clamorosas injustiças contra os de batina.
Passada a primeira década do século atual, as condições da imprensa teresinense tiveram, do ponto de vista ético, sensíveis progressos. Pessoas sem ódios e malquerenças começaram a orientar as nossas folhas, sem que se evitassem, vez por outro, os excessos, mais agressivos nas épocas de campanhas eleitorais. Então se exarcebavam os ânimos e as lavagens e descomposturas nos adversários se tomavam de intensidade. O destempero não constituía prerrogativa da imprensa teresinense, mas contagiava o jornalismo nacional, incluindo-se as campanhas desabrigas no Rio de Janeiro, a exemplo da que se fez contra Hermes da Fonseca e Artur Bernardes.
Assim foi nossa imprensa até pouco depois de 1930. Nova fase haveria de surgir, quando se criou a Associação Piauiense de Letras, a primeira entidade que discutia assuntos relevantes sobre jornais e jornalistas de nossa Teresina e do Piauí.
A. Tito Filho, 10/04/1988, Jornal O Dia.
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