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segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

IMPRESSÃO

Com o título A POESIA VEM DO PIAUÍ, Ribeiro Ramos expressão das letras cearenses, mandou-me este comentário:

"Com esplendidas ilustrações de DENA (uma artista!) tenho entre as mãos e diante de meus olhos o livro de versos de Nelson Nunes, cuja leitura acabo de fazer. Na Boca do Vulcão, oferta amável de meu dileto amigo, Acadêmico Professor A. Tito Filho, eminente e extraordinário Presidente da Academia Piauiense de Letras, intelectual de altos méritos e um gentleman perfeito.

Agradecendo o gesto delicado de Tito Filho confesso o prazer espiritual que me deu a companhia amável do poeta vulcânico, ouvindo-o cascatear os seus poemas, pequeninos e breves, de diáfana forma concretista, verdadeiras jóias filigranadas que fulgem no espaço em poeira de luz. CRENÇA, HOMINE, ESTAESTÁTUA, A CINDERELA, EXPIAÇÃO; NA BOCA DO VULCÃO - que dá nome ao livro - FLASH NOTURNO, mostram bem a Arte Poética de Nelson Nunes, cultivada na juventude e que ele, esteta que é, eleva e sublima à aproximação da mocidade para lhe sugerir, quem sabe? Novas formas poéticas.

Quer-me parecer que assim pensa, talvez, crítico do poeta, escritor Paulo Machado, ao escrever, na orelha do livro: ‘... as experiências não discursivas conjugadas com os exercícios de aperfeiçoamento da linguagem poética destinam-se aos leitores participativos. Estes poemas, felizmente, não foram escritos sob a carga estatizante que conduz à formalização estéril, por isto são obras de arte abertas e contaminadas pelas impurezas sociais’.

Desde menino aprendi a querer bem ao Piauí e a amar a sua gente. Um bem-querer nascido do coração e que alimentei toda a vida, fazendo-o crescer ao longo dos anos, sobretudo depois que, muito jovem, fiz os primeiros amigos ali nascidos e quando, mas tarde ainda, pisei pela primeira vez a terra abençoada da vizinha Província, mãe venturosa e fecunda de tantos filhos ilustres que se agigantaram no panorama da Inteligência Brasileira.

Um vulto sagrado no despertar desse grande amor: Da Costa e Silva, o Poeta Maior, nas páginas de uma Antologia, que o mano e Mestre José Waldo me pôs nas mãos, na aula de Português. Li e decorei SAUDADE, cujas estrofes me seduziram tanto, enchendo-me a alma de harmonia, encanto e beleza. E a saudade me pungia o coração todas as vezes que os meus lábios murmuravam: 'Saudade Olha de mãe rezando', pois que era assim que eu imaginava minha própria mãe debruçada sobre o meu berço na hora extrema do último adeus...

E a evocação! 'Saudade! Asa de dor do pensamento!'. E, por fim, no último terceto as lindíssimas estrofes finais:

'Saudade! O Parnaíba - velho monge,
As barbas brancas alongando... E, ao longe,
O mugido dos bois de minha terra'.

Fugindo ao sortilégio dessas dulcíssimas recordações, que sempre magoam, volto à presença amiga de Nelson Nunes, para lhe bater as minhas palmas calorosas e fraternas pela excelência de seus versos e sobretudo pelo primor e encantamento e beleza de:

ABERTURA

Não há muro tão consistente
que não possam atravessá-lo,
a água, o musgo e o poema’.

Gostaria de ver um dia Nelson Nunes, distanciado do Concretismo, cultuando a sua sedutora Arte Poética em outras áreas, talvez, como quer Paulo Machado, na busca ‘individual de atualização estética’. Creio que valeria o esforço”.


A. Tito Filho, 10/12/1988, Jornal O Dia.

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