Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, no Novo Dicionário da Língua Portuguesa inclui carcamano como brasileiríssimo. E define a palavra: "Alcunha jocosa que se dá aos italianos em vários estados; latacho, macarrone". Escreve mais que no Maranhão vale "a alcunha que se dá aos árabes em geral". No ceará, "vendedor ambulante de fazendas e objetos de armarinho". Antônio Joaquim de Macedo Soares acentua que carcamano é o "italiano de baixa classe". Nascentes diz apenas que carcamano corresponde a italiano, mas explica: "Uma etimologia popular diz que o vocábulo vem do conselho de um italiano a um filho que o ajudava na casa de negócio. O filho fazia honestamente a pesada. O pai então, quando o equilíbrio estava prestes a estabelecer-se, aconselhava: carca la mano (calça a mão). Se non e vero..." F. A. Pereira da Costa cita o vocábulo na qualidade de italiano, assim depreciativamente chamado. E anota dito do povo de Pernambuco: "Mama em grosso o carcamano, e abusa da bonhomia do povo pernambucano". O saudoso R. Magalhães Júnior explicou: "Denominação pejorativa dada aos imigrantes italianos, em razão das fraudes, atribuídas a estes, em suas quitandas e açougues, ao pesarem os alimentos, vendidos a quilo, ajudando a concha da balança a descer com o impulso da mão. De calçar a mão teria surgido a forma italianizada de carcamano, corrente não só no Brasil como na Argentina, onde Juan Paulista Alberdi a usou, num dos seus livros, em que dizia serem reverenciados, nos altares argentinos, alguns santos carcamanos, já ricos e portanto poderosos".
Em Teresina, carcamano sempre designou, de modo pejorativo, os árabes. Veja-se o depoimento de Salomão Chaib, médico de nomeada, em discurso de posse na Academia Piauiense de Letras: "Meu pai aqui chegou vindo de uma civilização milenar, duma terra sem horizontes. Ansiava por liberdade. Seu povo estava escravizado e colonizado impiedosamente, levado a servir, sob a bandeira de nação odiada, à luta pela grandeza e progresso de seu próprio algoz. Jurou ele que seus filhos não nasceriam colonos, nasceriam livres, numa coletividade generosa e bela, que lhes desse paz e trabalho. Foi assim que veio moço para o Brasil. E para o Piauí, que ajudou e honrou, trabalhando de sol a sol, viajando a pé pelos sertões agrestes, vendendo, aprendendo a língua, fazendo amigos e armando a nova pátria. Aqui se casou. Naturalizou-se brasileiro. Constituiu família. Nasceram-lhe os filhos. A pátria de seus filhos era a sua pátria".
E logo a seguir: "Guardo da infância despreocupada, dos primeiros instantes do convívio com outras crianças do grupo escolar, a observação de uma delas: CARCAMANO NÃO TEM BANDEIRA".
Prossegue o orador: "Em casa dei a noticia do acontecimento a meu pai. E ele, com profunda tristeza, explicou-me: A SÍRIA TEM BANDEIRA, MAS ESTÁ OCUPADA POR PAÍS ESTRANGEIRO".
A. Tito Filho, 07/12/1988, Jornal O Dia.
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