Conhecemos Orgmar Monteiro no velho Liceu Piauiense, educandário famoso de Teresina - e nele convivemos alguns anos, em busca do canudo das chamadas humanidades. Era de inteligência desenvolvida e bom raciocínio. Depois, no encontramos como funcionários públicos federais no Ministério da Agricultura, ainda no Piauí - cada qual no setor das suas funções: administrativas, as nossas, técnicas as dele, já preocupado com estudos e, ensinança a respeito do cajueiro.
Na década de 60 seguimos outros rumos. Perdemos de vista o companheiro. Admitimos ambos vôos mais altos. Orgmar buscou os caminhos do mundo, fez visita a brancos, amarelos e negros, enriqueceu a vida de múltiplas experiências alheias, no regalo turístico e na observação de hábitos, costumes e riquezas de povos diferentes.
Em 1985 editou-se Calendário Telúrico, que a Academia Piauiense de Letras distribuiu, trabalho por ele concebido e escrito sustentando sérios conhecimentos sobre sistemas de divisão do tempo - livro sobremodo educativo e que o colocou entre os estudiosos da cultural geral.
Contam-se nos dedos as repúblicas brasileiras. Houve a de Deodoro, Floriano e outros cidadãos. A Velha. Em seguida, a Primeira nova, que Vargas instituiu nos idos das quarteladas tenentistas de 1930. Depois a República Constitucional de Vargas, pavio curto, de 1934 a 1937. E veio mais uma do mesmo risonho feiticeiro gaúcho, que promoveu do próprio palácio presidencial, ajudado de alguns generais, de começo em 1937 e concluída aos 29 de outubro de 1945, data em que os tanques ocuparam a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro e os donos desses veículos mandaram que o ditador descansasse, numa fazenda de pastoreiro do Rio Grande do Sul. Cumpriu-se o ditame da fantasiosa e forte carta constitucional do tempo, entregou-se o governo ao Supremo Tribunal, simulando-se a continuidade republicana, e deram-se eleições. No ano do Senhor de 1946 estreou mais uma República, cuja liquidação se promoveu em 1961. Quantas? A deodoriana, a 1ª Getuliana (1930), a 2ª Getuliana (1934), a 3ª Getuliana (1937), a 4ª ou pós-ditatorial (1946). E a 5ª, a República Parlamentarista, rápida, com sabor de pantomima - destruída por plebiscito em 1963. A partir de 1964, a 6ª - a República Fardada, que se finou a de março de 1985 com a posse de um poeta e prosador sobre gente e cousas maranhenses no comando da 7ª República - estudada em 3 volumes por Orgmar Monteiro, nos mais variados aspectos e angustiantes problemas. Expõe-lhe as feridas, uma a uma, oferece os pós mágicos da cura certa. Revela que o Estado do Brasil detém o monopólio da violência contra o homem roubado. É necessário que se pratiquem atos de coragem: não permitir que a inflação continue a corroer a justa distribuição da riqueza; educar para o bem; enfrentar a inatualidade cultural e econômica brasileira.
Orgmar publicou cinco volumes sobre a antiga Teresina, seu constante xodó. E depois morreu em São Paulo - o velho coração parou para sempre.
A. Tito Filho, 07/09/1988, Jornal O Dia.
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