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quinta-feira, 3 de março de 2011

MESTRE HIGINO

Nasceu a 11-1-1858, no sítio Bacuri, município de São José das Cajazeiras, hoje Timon, Maranhão. Pais: Luis José da Cunha e Ludgera Maria da Conceição. Com os irmãos mais velhos estudou primeiras letras. Com 12 anos veio para Teresina, empregando-se no comércio. Estudou escrituração mercantil. Guarda-livros. Rumou aos 20 anos para são Luís, onde estudou preparatórios. Já demonstrava acentuada vocação literária. Bacharel em 1885 pela Faculdade de Direito do Recife, discípulo dos mais inteligentes de Tobias Barreto. Regressou a Teresina. Aderiu à política. Redator de "A Imprensa". Em 1887 juiz municipal de Picos (Maranhão). Proclamada a República, fixou residência na capital do Piauí. Grande lutador. Propagandista dos momentos sociais da abolição e da República. Orador na praça pública, conferencista, estudioso da filosofia, jornalista de pulso, polemista desassombrado, professor e advogado.

Escrevendo sobre Higino Cunha, o acadêmico Moura Rego lembra a sua formação na Faculdade de Direito do Recife, na qual pontificava sobretudo Tobias Barreto, chefe de uma verdadeira revolução espiritual no domínio das idéias. E acentua: "Assim predisposto, e alistado nas fileiras que viriam emancipar a mentalidade nacional, sua ação é decisiva. Passa em revista, maravilhado pela novidade, todo o vasto contingente de idéias que invade então os círculos acadêmicos; atira-se aos largos caminhos abertos na fúria do desbravamento, ansioso de atingir as elevações do último extremo; examina métodos e compara sistemas, aprofunda-se em indagações sobre a vida, sobre a matéria; percorre os domínios da ciência, da religião e da filosofia; faz cultura, armazena conhecimentos; abraça Kant e Haeckel. Encontra, afinal, água nova para sua sede, luz brilhante para sua treva".

Notável jornalista. As suas polêmicas, quase sempre em defesa de princípios, abrangeram quase todos os setores da cultura. Quando estudante escreveu em "Folha do Norte" (Recife). Teve colaboração valiosa na imprensa de Teresina: "A Imprensa", "A República", "Correio de Teresina", "O Habeas-Corpus". Defendia vigorosamente as suas convicções religiosas, políticas e filosóficas. Em Manaus, onde esteve entre 1895 e 1896, trabalhou em "A Federação" e em "O Estado do Amazonas", travando lutas memoráveis.

Sucedendo-o na Academia Piauiense de Letras, sustentou Moura Rego: "Do meio do seu ateísmo intransigente, do meio da sua heresia, surgia sempre, num contraste interessante, o homem bom. Atacava os padres e fazia caridade; atirava nos santos da igreja as pedras da sua irreverência e levantava do pó os necessitados e os desprotegidos da sorte; negava o céu e acreditava no amor; desconhecias as leis de Deus e obedecia aos seus mandamentos. Como juiz, jamais cometera uma injustiça, e como advogado as suas causas eram as dos oprimidos, dos explorados, das vítimas do ódio ou da tirania".

Mestre de várias gerações. Professor acatado e brilhante da Faculdade de Direito do Piauí. Amigo dos moços, os quais recebiam do deslevo incentivo constante.

Na política e na imprensa, foi "um grande explorado", como acentuou Cristino Castelo Branco.

Higino cultivou também a poesia e a história.

Aposentou-se como procurador dos Feitos da Fazenda Estadual (Piauí). Publicou as seguintes obras:

● "Pro Veritato" (crítica literária - 1883);
● "O Idealismo Filosófico e o Ideal Artístico", 1912;
● "O Teatro em Teresina" (conferência - 1923);
● "História das Religiões no Piauí" (1924);
● "Os Revolucionários do Sul" (1936);
● "A Igreja e a Constituição de 1924";
● "Memórias Autobiográficas";
● "Anísio de Abreu - sua vida, sua obra, sua morte";
● "Matias Olímpio de Melo";
● "A Defesa do Professor Leopoldo Cunha".

Higino Cunha fez parte da Junta que governou o Piauí, no período de 21-12-1891 a 11-2-1892, integrada também por João Domingos Ramos, Clodoaldo Freitas, José Eusébio de Carvalho Oliveira, Elias Firmino de Sousa Martins e José Pereira Lopes.

Faleceu em Teresina a 16-11-1943.


A. Tito Filho, 27/03/1988, Jornal O Dia

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