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quinta-feira, 3 de março de 2011

PIAUÍ

Ingressou o Piauí no século XIX de modo precário; tardio povoamento dificuldades de comunicação com o Brasil e o mundo, exclusivo comércio do boi, ausência de agricultura, falta de escolas - fracas perspectivas, pois, na centúria que se inicia.

A primeira metade dos novos cem anos constitui objeto de estudo que expõe, apoiada sobre sérias fontes de conhecimento, a Professora Miridan Britto Knox, bem documentada - uma documentação que ela confere, examina e, de que retira a verdade, para a narrativa segura e análise esclarecedora.

O período que ora se registra e interpreta tem características esmorecedoras: economia de subsistência, riquezas estagnadas, comércio e lavoura em imensas dificuldades, pecuária decadente, tristes condições educacionais. Não se pode ignorar, porém, que o Piauí se envolveu em movimentos revolucionários - dois, sobretudo a Independência e a Balaiada.

No alvorecer do século XIX, o ouro, o diamante e o açúcar declinavam no Brasil. O norte valia dois terços de atividade útil no território nacional. Se o comandante português Fidié mantivesse o Piauí fiel aos lusitanos, como queria D. João VI. Portugal dominaria a nossa fartura em gado e evitaria a vitória dos baianos, na luta pela emancipação política, cortando-lhes o fornecimento de carne. Maranhão, Pará e terras piauienses formariam o Brasil Português, subordinado a Lisboa. Tal não se deu.

Fidié abandonou a sede do governo e seguiu com a tropa para Parnaíba, município em cuja sede se fez manifesto em favor da independência. Ausentes os soldados e respectivas armas, Manuel de Sousa Martins, futuro visconde da Parnaíba, instituiu em Oeiras, então capital administração por ele chefiada. Depois, em março, deu-se a sangrenta Batalha do Jenipapo no Piauí, que selou a unidade brasileira. A definitiva derrota dos exércitos portugueses se verificaria poucos meses depois, em Caxias do Maranhão.

A guerra violenta dos balaios, no Maranhão e no Piauí, tem causas num choque de culturas. As origens próximas da luta estavam na prática perniciosa do recrutamento feito pelo Exército, obrigando-se que pobres caboclos entrassem para o serviço das armas, longe da terra e da família. As origens mais graves, entretanto, eram outras: as condições de ordem econômica geradoras de permanente angústia coletiva; a terra confiada a poucos, aos que representavam o regime político e que viviam de explorar o homem do interior, bem assim a fome e a estrutura social, o brasileiro esquecido e abandonado.

Nestes primeiros cinqüenta anos do século XIX, no Piauí, mais de duas vintenas pertencem ao ciclo do visconde da Parnaíba, a quem coube defender e manter a ordem enquanto teve prestigiado o seu mando e autoridade.

Mestra universitária estudiosa, pesquisadora de aplaudida probidade, Miridan Britto Knox reúne palpitantes e aplaudidos estudos de natureza social e política, fiel aos ensinamentos históricos, e assim contribui de modo louvável para relembrar o passado piauiense, que ela busca em fontes primárias de irrecusável valor.


A. Tito Filho, 27/07/1988, Jornal O Dia

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