Chamou-se Álvaro de Assis Osório Mendes, nascido na antiga capital piauiense de Oeiras, em 1853. Formou-se na Faculdade de Direito do Recife, aí se educando numa época em que a ânsia da investigação dominava os espíritos. Exerceu a promotoria pública de três comunidades maranhenses. Ocupou o juizado de direito de São João, Amarante e União, no Piauí. Criado o Tribunal de Justiça, escolhe-o o governador Gabriel Luís Ferreira como um dos desembargadores do colegiado, junto com Polidoro Burlamaqui, Augusto Collin, Helvídio Aguiar e João Gabriel Baptista. Renunciou ao elevado cargo por motivo de foro intimo, pois a maioria dos colegas votou contra ele uma suspeição que lhe pareceu desairosa à integridade de magistrado. Abraçou à seguir a carreira política. Três vezes chefe de polícia do Piauí. Candidato ao Senado da República, não teve a eleição reconhecida no Rio de Janeiro. Aceitou, na época, uma promotoria pública, no Estado do Rio. Depois, tesoureiro da Imprensa Nacional. Eleito senador em 1899, teve a eleição homologada pelo Congresso em 1900. Governador exerceu o mandato no Período de 01-07-1904 a 05-12-1907, data do seu falecimento em Teresina. Na sua administração, construiram-se algumas obras públicas. Inaugurou-se o serviço de abastecimento d'água da capital piauiense, até então servida pelos prestimosos CARGUEIROS, como eram chamados, de latas equilibradas sobre a rodilha na cabeça, ou tocando jegues de ancoretas nos lombos, de casa em casa, para venda do indispensável líquido.
Fatos sociais de grande repercussão ocorreram no tempo de Álvaro Mendes, como a visita do presidente eleito da República, Afonso Pena a Teresina. No terreno religioso, assumiu o primeiro bispo do Piauí, Dom Joaquim Antônio de Almeida, em 1906. Era potiguar de nascimento. Criou o nosso bispado, em 1901, o papa Leão XIII, pela bula Supremum Catholicum Ecclesiam.
Ainda na administração Álvaro Mendes houve fato auspicioso: instalou-se empresa telefônica particular, aparelhos de manivela, pertencente à Joca Broxado.
Álvaro Mendes sempre colocou os interesses da consciência reta acima de quaisquer outros. Enérgico e calmo. O seu governo foi de reconstrução moral. Respeitável julgador, culto e dado a prática da mais elevada justiça.
Discursando, na Academia Piauiense de Letras sobre sua forte personalidade, acentuou Matias Olímpio: "O direito para ele foi uma arma educativa. Levou sua longa judicatura a incutir o senso jurídico na alma do sertanejo, procurando abrir clareiras no seu cérebro e elevar o seu moral. Nesse afã consumiu anos".
Higino Cunha acentuou sobre ele: "Quem não o conhecesse de perto dificilmente poderia saber que aquele vulto franzino e modesto encerrava um jornalista de raça, um político às direitas, um magistrado exemplar e um amigo adorável".
Como juiz, desembargador, senador e governador, Álvaro Mendes passou longos anos amigado com mulher de rara grandeza espiritual. A mulher ao menos podia freqüentar o palácio governamental. Jamais se preocupou com os preconceitos da época. Casou-se perto de morrer. Os cometimentos dos amores do ilustrado homem público se encontram narrados por William Palha Dias, no livro "Mulher Dama, Sinhá Madama".
O nome de Álvaro Mendes está numa das principais vias públicas de Teresina, centro da cidade.
A. Tito Filho, 26/03/1988, Jornal O Dia
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