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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

JÂNIO

Inexperiente, andei votando nuns nomes que a publicidade endeusava para presidente da República. Votei no Brigadeiro Eduardo Gomes, para quem Prado Kelly escrevia a discurseira de homem puro. Foi derrotado. Puseram Dutra no Catete, general cercado de genros e filhos de criação. Dutra gastou as divisas nas estranjas comprando porcaria de matéria plástica aos gringos. Amedrontado do barulho da banda de música da UDN, o general fez acordo político com Otávio Mangabeira, baiano esperto, e outros tocadores de instrumentos como bombo e bombardão. Em seguida pus meu voto no Getúlio. Um novo Getúlio Vargas, sério, nacionalista, criador da PETROBRÁS que o ditador Geisel, anos depois, sem lei e sem decreto, espatifou nos contratos de riscos. Um país pândego. Pois bem. Formou-se uma onda de impiedade contra um dos raros estadistas deste país e Getúlio, levado a cruel desespero, meteu uma bala no peito numa tristíssima manhã de agosto, no quartinho desconfortável do palácio presidencial, o Catete. Novamente fui convocado ao voto. Três candidatos, nem me lembrou, um deles o Juscelino, em quem votei. Tinha mania de grandeza, num país de cegos, aleijados, famintos, desgraçados. Quando prefeito de Belo Horizonte, fez a Pampulha, cousa de rico, enfeitada de lago artificial, com cassino e outras dissipações. Por perto o povo pedia esmola. Na presidência, chamou os sábios das escrituras e mandou que se projetasse uma nova capital para o Brasil, no cerradão bruto do planalto central. Todos os dinheiros deste país se destinavam ao sorvedouro nacional. Derribou-se a mata raquítica, torta, que nem passarinho queria. Os animais de caça fugiram para as matas distantes. Construiu-se a monstruosidade. Cimento armado. Um dia Vitorino Correia andava atrás de emprego melhor que o de general reformado. Correu a Juscelino, que lhe ofereceu a presidência nacional do IPASE, contando que toda a arrecadação se metesse na buraqueira de Brasília. O general desistiu, era homem sério com os dinheiros alheios. Sucedeu mais uma eleição presidencial. Votei em Jânio, cabra bom, brasileiro. Nele sobrava o principio da autoridade. Governou uns sete meses. Mandou que os políticos trabalhassem no Congresso - e assim se engavetaram os projetos necessários ao governo. Revogou os subsídios oficiais à gasolina, pagamento que o Brasil fazia em beneficio da bolsa dos ricaços, pois pobre mal pedala bicicleta. A malandragem da jogatina de futebol e da corrida de éguas e cavalos só sábado e domingo. Aboliu a perversidade da briga de galo. Proibiu a sem-vergonhice do biquíni. Botou funcionário público no trabalho. Caloteiro passou a pagar imposto. Jânio deixou a presidência com altivez e dignidade. Quis dar um golpe. Não pôde, infelizmente.

Muito anos depois, eleito, voltou à Prefeitura de São Paulo. Ninguém lhe conhece a obra monumental que vem realizando, pois não compra nem paga publicidade. Vou, porém, transcrever, amanhã, a insuspeita opinião de "Jornal do Brasil".

De mim, sou janista de quantos costados eu possua.


A. Tito Filho, 26/04/1988, Jornal O Dia 

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