Ninguém recusa a evidência da inchação populacional. Vigora o crescei e multiplicai bíblico. Raras as coletividades no mundo que adotaram o planejamento familiar, como se faz em algumas da Europa, sobretudo nos países nórdicos. No Brasil, quanto mais pobre o casal, mais menino. Mulher rica usa pílula anticoncepcional. Garota de segunda ou terceira classe cria bucho. As cidades grandes, plenas de convocações para a vida supérflua e dissipadora, de empregos enganosos, se transformaram em megalópoles faveladas, nas quais os pobres tropeçam em mil dificuldades, para que possam comer e vestir. Enfim, vegetar, ao menos. A indústria arrancou a mulher do lar. As fábricas produzem todas as utilidades, o leite, a salsicha, o doce, a massa de tomate, a feijoada, o tempero, o pão, por preços triplicados. A chamada alta costura, de empresários inteligentes, costureiros que gastam fortunas em publicidade, faz que as fêmeas enlouqueçam. Criaram-se os clubes sociais e de uísque, sob a capa de caridade cristã, para desfile de vestidos caríssimos, comprados a peso de ouro, nas butiques que enriqueceram as proprietárias. Gastando a rodo, a mulher do soçaite precisa de muito cobre, finanças fortes, a fim de que acompanhe a moda e sustente o HOBBY alegre dos comes e bebes e recepções festivas.
A classe média, sem renda, as cousas da barriga e os panos nos queimas das lojas vendedoras custando os olhos da cara. O chefe de família apenas remediado, dinheiro contado para os pirões de cada dia, não pode sustentar os desejos de três ou quatros mocinhas que reclamam dos pais sandálias, desodorante, xampu e tecidos de cetim, fora JEANS e US-TOP, que elas vêem noite após noite nos anúncios de televisão.
Faminto também é gente. A classe do salário mínimo igualmente fabrica mocinhas e estas necessitam de cobrir as excelências.
A solução está no emprego. Já não existem garotas como antigamente, um vestidinho por mês, perfume de brilhantina Flor do Amor e Tentação.
Criem-se empregos. Na alta-roda existe a Marani, como se chama a mulher do Marajá. Na classe média, o burro de carga tem no lar rabos-de-saia desocupadas e os dinheiros que ganha do governo mal chegam para os pirões do almoço. Naturalmente que as meninas querem emprego. Na classe dita assalariada, a falta de dinheiro dos cofres públicos para as despesas das moças bem desenvolvidas de anseios provoca mais problemas sociais. Elas querem pouco, somente um contratinho de zeladora.
O jeito está no emprego. Cem mil funcionárias, duzentas mil, a metade de licença, muitas dispensadas de serviço, algumas em Tóquio, Rio de Janeiro, na Holanda, e no batente as que sabem trabalhar.
Haja emprego. Se acaso eu pudesse, se papai do céu me desse, eu vivia cercado de funcionárias por todos os lados, com uma ilha de felicidade.
A. Tito Filho, 21/03/1988, Jornal O Dia
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