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quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

CORIOLANO

Pelos anos de 1820, cidadãos piauienses se fixaram na pequena faixa litorânea onde hoje fica a cidade de Luís Correia. Pescavam, comiam peixe, vendiam peixe. Arrumaram mulheres e se amigaram e começaram o milagre da multiplicação. Cearense, entretanto, sempre sabido, da vila de Granja, situada por perto, iniciou o programa de ocupar o território praiano do Piauí - e logo os padres granjenses o percorreram em desobrigas para batizados de meninos barrigudos e benzimentos das amigações. Não houve demora. A Assembléia Provincial do Ceará criou, por lei, o distrito de Amarração. E tomou conta do lugar. Só uns sessenta anos depois, o Piauí sentiu que no assunto havia mão de gato. Fez o berreiro, e conseguiu que o governo imperial lhe devolvesse o lugarejo. Como? Haveria uma troca. O Piauí voltaria a possuir Amarração, mas entregaria ao Ceará dois municípios, chamados Independência e Príncipe Imperial. E assim se fez. Os dois incorporaram-se ao Ceará com o nome de Crateús.

Foi em Príncipe Imperial do Piauí que nasceu, em 1829, José Coriolano de Sousa Lima. Bacharel pela Faculdade Direito do Recife. Deputado provincial do Piauí. Juiz de direito no Maranhão. Paupérrimo. Padeceu privações materiais. De exagerado escrúpulo. Faleceu na terra natal em 1869. Depois do falecimento do poeta, publicaram-se as suas poesias com o título de IMPRESSÕES E GEMIDOS, escolhido pelo autor quando ele pretendeu publicá-las. A obra deveria sair em dois volumes, saiu entretanto apenas um.

Coriolano publicou alguns trabalhos em prosa, destacando-se "O Casamento e a Mortalha no Céu se Talha", romancezinho de enredo simples, no dizer de David Caldas, "Frei José de Santa Rita Durão", ensaio crítico, "O Suicídio", "A Marília de Dirceu", "A Liberdade de Imprensa".

Notável cultor da poesia popular. Retratista do sertão piauiense. Desenhista inspirado dos costumes sertanejos. O romancista Franklin Távora escreveu: "Na fiel pintura dos costumes do Norte, José Coriolano excede Gonçalves Dias, musa elegante, generalizadora, erudita, e só encontra rival em Juvenal Galeno, sumamente popular, quer na poesia, quer nos ensaios de dramas e de romances, gênero em que deveria ter hoje nome tão extenso como o que ganhou na poesia, se as condições do meio onde existe não fossem tão contrárias a mais vasto desenvolvimento mental e literário".

Tivesse nascido noutro lugar seria endeusado. José Coriolano está para o Piauí como José de Alencar para o Ceará, sustentou Esmaragdo de Freitas: "A mocidade indígena podia e devia tentar o resgate do feio pecado das gerações passadas, promovendo, antes do expirar desta era cristã, alguma cousa em prol da glorificação de José Coriolano".

Em 1973, o governo Alberto Silva, reeditou as poesias de José Coriolano, numa justa homenagem. Nesta época, dediquei algumas linhas a esse grande piauiense que vive na ingratidão dos seus conterrâneos, nos colégios, no conhecimento público, na leitura da pouca gente que sabe ler. Escrevi o seguinte: "Nas poesias de José Coriolano, o espírito inteligente encontra aquela beleza ideal dos caracteres, nas duas espécies: a beleza ideal moral e a beleza ideal física. Tenho a beleza ideal como a queria Chateaubriand: arte de eleger e de ocultar. Coriolano elegeu o que discerniu como conteúdo da sua inspiração, e prestou obediência à arte com a ocultação do que lhe pareceu desinteressante à sensibilidade. Foi romântico. Misturou o verdadeiro e o ideal - as fontes do seu interesse poético. Sentiu a seu modo o comovedor e o maravilhoso - e os cantou, enaltecendo-os".

A. Tito Filho, 22/07/1988, Jornal O Dia

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