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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

DESPEDIDA

Anízio Cavalcanti, talentoso piauiense, enviou as considerações abaixo ao ilustrado e culto mestre Francisco Barreto Soares Cordeiro sobre o livro DESPEDIDA, do saudoso poeta Oliveira Neto:

"A VIZINHANÇA da morte e a proximidade do aniquilamento são temas constantes em literatura de expressão poética. O ser humano, eterno em sua alma, mas contingente e transitório em sua textura de barro, em várias fases da vida é acometido por toda uma gama de sentimentos, que vão desde o leve pressentimento da fragilidade da existência biológica até as agruras da angustia existencial em conflito com a carne fraca. O infante se aninha instintivamente nos braços da mãe, em busca inconsciente de uma proteção; o homem de setenta anos abre conscientemente sua alma, em busca de um diálogo com o Cosmos: mergulha na claridade das manhãs banhada de sol - símbolo da esperança - e dos crepúsculos que se dissolvem na noite - símbolo do que morre... O homem morre a cada dia e renasce com o novo sol, enquanto o teimoso coração lhe bater no peito - primum vivens, ultimum morriens.

O mergulho no Cosmos, ao mesmo tempo físico e metafísico, dilata o coração a transbordar de indagações ansiosas sobre o destino. E eis-que, lá no alto, o mundo das estrelas, distante e mudas, se desdobra em abóbada desmesurada, e lhe diz, no silencio das galáxias, que aquele brilho é vida, e que essa vida é a vida total, regida pelo Criador. Por trás desse teatro fantástico se situa o nosso antideus, que transformou o barro em ser pensante. E o barro, agora feito homem, e o homem, agora feito poeta, dobra-se sobre si mesmo e angustiado indaga às estrelas o seu rumo definitivo.

OLIVEIRA NETO, poeta de sensibilidade, meu contemporâneo (1907), dobrou os setenta anos, através de fecunda produção de poesia na literatura piauiense. Neste mais recente volume (1983) põe no pórtico o soneto Despedida, com que anuncia cessar escrever poesia:

"É o poeta deixando a poesia parar
Sem causar prejuízo ou pesar a ninguém!"

Acrescenta, à página seguinte, que tem achado a vida tão bela, e se agradou tanto dela, que deseja voltar de novo.

Do ponto de vista literário, o poeta de bom quilate não morre: fica, nos livros que escreveu. E os eu corpo de barro, ao morrer, passa de novo pelas mãos do nosso Deus-Pai, para banhá-lo no sangue do Cristo-Redentor, e transfigurá-lo à luz das estrelas. E a alma do poeta, transfigurada, rebrilhará entre os milhões de seres que integram as galáxias humanas".


A. Tito Filho, 24/11/1988, Jornal O Dia

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