A verdade esteve em que os oposicionistas do Piauí devem ter-se decepcionado, como os do Rio, com as urnas de 2 de dezembro de 1945. O triunfo coube ao adversário, embora na província piauiense se verificasse a vitória de Eduardo Gomes, dos candidatos ao senado e de quatro dos sete integrantes da representação na Câmara dos Deputados. Não houve, porém, desertores, nem se esfriaram os ânimos. O jeito era aguardar a luta pelo governo estadual.
Muito se esperava do presidente Eurico Dutra, que, mais de uma vez, acenou ao país com um governo de entendimento e concórdia, a fim de que se consolidasse o regime recém-nascido. Em quase todos os Estados se deu o diálogo dos adversários, entre os quais até acordo se verificou. No Piauí, o clima passional rebentou mais forte e ódios e malquerenças perturbaram de maneira intensa os chefes e seus seguidores. Para ajudar os correligionários conterrâneos, criamos, Tibério Nunes, Luiz Costa, Virmar e Vinícius Soares e eu, o jornalzinho "Libertação", de boa valentia, que os generosos bolsos de José Candido Ferraz financiavam. Foi nesse clima de emoções partidárias que se efetivou o empastelamento, na calada da noite, de "O Piauí", a tribuna de inteligência e bravura, ocupada por Eurípedes de Aguiar e seus leais companheiros de idealismo objetivo. Pior: os irresponsáveis arrebentadores de prelo e misturadores de caracteres tipográficos mataram o humilde vigia das oficinas e ainda feriram o modesto operário. O revoltante crime repercutiu por toda parte e feriu de morte a autoridade da interventoria no Estado. Mais e mais, no Rio, os moços piauienses de "Libertação" se empolgaram, e novas edições foram feitas e remetidas a Teresina, com grande sucesso.
Fixaram-se as eleições governamentais e de deputados estaduais nos organismos federados para 19 de janeiro de 1947. Firmou-se a candidatura oposicionista do médico José da Rocha Furtado à Chefia do Executivo do Piauí - candidatura que logo mereceu aplausos vibrantes e decisivos. Na antiga capital brasileira, Tibério Nunes, Fenelon Silva, Álvaro Ferreira Filho, Mariano Mendes e eu organizamos comitiva, com auxilio financeiro de Joaquim Pires Ferreira, para, no Piauí, ajudar os sofridos e destemerosos correligionários. Saímos da terra carioca um dia ou dois após o Natal de 1946, de trem, passando por Belo Horizonte e atingido Pirapora. Daí até Remanso, na Bahia, viajamos num vaporzinho do São Francisco, embarcação saudável, gostosa, aprazível, que o povo apelida de gaiola. Alguns dias de alegre convivência gozamos no barco, com apetitoso de-comer, sono de tranqüilo e repousante. Em vários portos fluviais o naviozinho abicava, para pegar passageiros. Num deles, Fenelon e eu nos metemos em inesquecível peripécia amorosa, com duas fuampas de beira de rio.
A. Tito Filho, 15/11/1988, Jornal O Dia.
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