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sábado, 1 de janeiro de 2011

ABOLIÇÃO NO INTERIOR

Possibilita-me Joel Oliveira registrar os acontecimentos de algumas comunidades do interior do Piauí, comemorativos da abolição da escravatura. Na vila de Barras, quando a noticia ali chegou, houve festejo de rua, com música e foguetes. Houve discursos cívicos de Horácio Fernandes, do coletor Silvestre Tito Castelo Branco (meu avô paterno), do promotor Antônio Lopes, do juiz Cirilo Mota e Nelson Correia. Correu cerveja no baile realizado a 24 de maio, domingo.

Na vila de Livramento uma passeata percorreu as ruas, erguendo vivas à liberdade. A 31 de maio realizou-se grande festa popular, com danças a noite inteira ao som da viola, prolongando-se até o dia seguinte.

Em Colônia de São Pedro de Alcantara, hoje Floriano (homenagem a Floriano Peixoto), encostou o vapor chamado "Paranaguá", a 21 de maio, cujos passageiros deram noticia da abolição. Realizaram-se muitos festejos cívicos e sociais.

Somente a 7 de junho, chegou, pelo correio, a noticia do ato de Isabel a Bom Jesus. A 10 promoveram-se destas de tambor e foguetório. Missa a 19. Enfeitada a praça principal. Animadíssima passeata. Na residência do juiz Luís Evandro Teixeira, entoou-se o hino brasileiro e o magistrado pronunciou inflamado discurso. Na casa do vigário Manoel Mariano de Oliveira, que fez patriótica oração, o entusiasmo se tornou deveras contagiante.

A 5 de junho São João do Piauí tomava conhecimento da lei de 13 de maio. Os escravos logo tiveram ampla liberdade, saíram aos grupos e em poucos instantes a eles se juntavam todas as classes. Houve alegres manifestações. Na residência de Joaquina Sérvio Ferreira, cheia de brancos e pretos, em mesas enfeitadas, houve opíparo jantar de inúmeras iguarias. Discursaram o juiz Álvaro de Assis Osório Mendes, o coronel Fernando Marques Drumond de Carvalho e promotor Raimundo Borges da Silva. Animado baile, dançando-se quadrilhas, valsas e polcas, encerrou as comemorações.

Só a 14 de junho Jerumenha soube da notícia. Missa, passeata e dança festejaram o gesto da princesa.

Jaicós a 17 de junho teve ciência da abolição. O povo entusiasmado participou das bonitas festas pelas ruas.

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Copio do consciente cronista e pesquisador Joel Oliveira, saudoso intelectual piauiense, esta anotação final: "A 7 de outubro de 1884 aparece nesta capital (Teresina) o ABOLICIONISTA, periódico semanal, destinado à propaganda da abolição da escravidão, tendo como redatores Francisco de Sousa Martins, José Joaquim de Moraes Avelino e Francisco Alves do Nascimento. Além da legenda LIBERTAS QUAE SERÁ TAMEN, trazia no alto CEARÁ-AMAZONAS, as duas primeiras províncias que no Brasil se tornaram livres e mais abaixo BARRAS-AMARRAÇÃO-JAICÓS, as primeiras localidades da província (Piauí) que extinguiram o elemento servil. Amarração tem hoje o nome de Luís Correia”.


A. Tito Filho, 13/05/1988, Jornal O Dia.

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