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segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

NAMORADOS

No meu tempo não havia estas datas comemorativas, os dias disto e daquilo: dia das mães, do papai, do vovô, da vovó, da criança. Cada ramo profissional tem o seu: dia da aeromoça, dia do comerciante, dia do comerciário, da meretriz, do funcionário público, do motorista. A indústria e o comércio deveriam criar outros, como o dia do netinho, da titia, do coveiro. Que tal uma data que lembre as COROAS, mulheres que deram o tiro na macaca e que são as mais apetitosas rabos-de-saia da paróquia? Por extensão, também se assinalava a data homenageadora das BONECAS, outra das DONDOCAS. O dia-guei e o dia-sapatão. Nestes dois últimos as vendas seriam espetaculares.

A 12 de junho festejou-se o dia dos namorados, o que não acontecia alguns anos atrás. Também já não se namorava como antigamente, o casalzinho de mãos dadas apenas para que o público visse tanta inocência nas praças animadas das retretas musicais, ou no uso de certas bolinações na penumbra dos cinemas.

Nos tempos atuais as farmácias estiveram repletas de moços e moças na compra do melhor presente para os receios de cada qual: as camisinhas. Módicas de preço e de resultados mais ou menos seguros nos motéis que já estão cobrando por minuto de ocupação das camas redondas e filmes de ensinança pornográfica.

Minha primeira namorada foi uma matutinha muito alva, filha de latifundiário do antigo Marruás, hoje Porto. A menina com os pais comparecia nos festejos de Nossa Senhora dos Remédios. A gente dançava mal nos bailes de primeira que iam das dez da noite às duas da madrugada. Amor platônico, que a gente não sabia ainda das sem-vergonhices da vida.

Já taludo, consegui em Teresina namorar um morenão cheio de carnes, cabelos negros, bonita como quê, e ao lado dela, assistindo a filme de amor, aprendi a arte sublime da bolinação, como se dizia o pegamento nas saliências do colo bem feito. A garota também sabia adotar as suas liberdades provocativas.

E segui o meu destino de namorador constante, e vivi momentos inesquecíveis e deliciosos. Foram tantos. Mas a gente ficava nessas primícias encantadoras dos primeiros contactos. Avançava-se um pouco, e mais não se fazia nem se tentava, salvo se quisesse descontar o vale e sujeitar-se ao casório infalível.

Hoje se namora de modo diferente. Extinguiram-se as virgens, feitas as exceções ilustres e de praxe. Os namorados buscam as tardes e as noites nos motéis, ou nos relvados das praças esquecidas, ainda nas areias das coroas dos rios, no tempo de estio, também debaixo dos pés de pau. E nos automóveis todo tempo, em posições dramáticas.


A. Tito Filho, 18/06/1988, Jornal O Dia

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