"Revivendo Teresina" vale um trabalho de amor e afeição a esta cidade maltratada, ferida, desfigurada na sua memória social. Tranqüila e pitoresca, como sempre eu disse dela, da sua gente querida, singela nas suas habitações, nos prédios públicos. A antiga Vila Nova do Poti tem sido dia por dia modificada pela exploração imobiliária e ganância de certos proprietários sem alma, sem respeito à lembrança dos que a construíram.
Leônidas Melo iniciou o processo. Mandou derribar o edifício do fórum, merecedor de respeito, pois ali pontificaram luminares da ciência jurídica que constituíram o Tribunal de Justiça do Estado. No lugar se constituiu o Hotel Piauí, hospedaria governamental arrendada a particulares que encheram a pança de dinheiro por conta e patrocínio dos cofres públicos desta terra sem rumo e sem objetivo. Havia acordo entre o arrendante e o arrendatário. Dos dinheiros do arrendante o arrendatário descontava, nos governos seguintes, a hospedagem gratuita e criminosa de deputados e dos protegidos oficiais. Tanto gritei que o hotel foi vendido, anos depois. Ainda bem. Demoliu-se o tradicional Café Avenida, onde homens ilustres se encontravam para palestração amistosa. Hoje o local serve de estacionamento de automóveis. Quanta desafeição a uma comunidade acomodatícia e inconsciente dos seus direitos.
Passado o tempo, houve o deprimente espetáculo de desproteção aos bens espirituais de Teresina decretado pelo governador Helvídio Nunes. Sacrificou-se o prédio enorme, em que se alojavam antigamente a Secretaria de Fazenda, a Faculdade de Direito, a Diretoria das Obras Públicas, a Chefia de Policia - um conjunto de heranças históricas - derribando para a bestialógica construção de um centro administrativo desnecessário. Ali se inaugurou o centro telefônico automático, em 1937. Sem dinheiro para terminar o elefante branco, vendeu-se o arcabouço ao Ministério da Fazenda, que o concluiu e nele assentou vários dos seus setores administrativos. Proeza de heróis, a do conterrâneo Helvídio Nunes.
"Revivendo Teresina" constitui um livrinho de amor. Concebeu-o uma plêiade de gente maravilhosa, como Socorro Carvalho (pesquisa), Alcília Afonso, Ana Márcia, Ana Clélia Correia (texto), Arnaldo Albuquerque, Wagner Santos e Diva Figueiredo (fotografias), Ana Márcia Moura e Alcília Afonso (desenhos) e Geni (arte final). Gente de coração, sobretudo.
Nunca perdi a lembrança do prefeito Lindolfo Monteiro, que administrou a cidade uns dez anos. Médico de crianças. Ele não fez esgotos, mas tinha cuidados especiais com a cidade. Nesse tempo não havia verbas federais no tesouro municipal. As cidades viviam dos seus próprios recursos. Na história de Teresina, Lindolfo representa um dos seus mais admiráveis governantes. Antes, houve Luis Pires Chaves.
Luis arborizou, uma lindeza, a praça Saraiva. O criterioso Lindolfo criou o Parque da Bandeira - simples, bonito, sem desfigurar cousa alguma. Por volta de 1936 Francisco do Rego Monteiro, prefeito, deu mais graça e harmonia à praça Rio Branco, antiga praça Uruguaiana, lugar em que se acenderam as primeiras lâmpadas elétricas de Teresina.
Lindolfo fez mais. Cidade limpa. E urbanizou a velha e boa praça Aquibadã, que depois se chamou João Pessoa e finalmente Pedro II.
Assassinaram as lembranças espirituais de Teresina, em nome de um progresso sem entranhas, destruindo-se, por causa do dinheiro, a memória desse xodó maravilhoso que foi a cidade de Saraiva de Antigamente, desambiciosa, tranqüila e pitoresca.
A. Tito Filho, 20/08/1988, Jornal O Dia
Em honra a "Revivendo Teresina", Tito Filho fala da transformação espacial que a cidade sofreu, à época do Estado Novo, e que gerou a cidade de hoje. Cita dentre os 'urbanistas' da época, Luís Pires Chaves, mas sem dar idéia da importância de suas atividades para o desenvolvimento da cidade. Descobri isto durante as pesquisas de meu doutorado.Suas atividades e consequências são discutidas no cap 2 de minha tese.
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