Deu-se um alvoroço neste último dia internacional da mulher. As fêmeas nacionais comemoraram o acontecimento. Julgam-se ainda injustiçadas. Querem que a constituinte lhes dê setenta por cento de pensão do pobre diabo do ex-marido lascado em banda. E mais: a nova constituição deve assentar que elas passem definitivamente ao BOTTOMLESS.
Sim, ao BOTTOMLESS, divinamente peladas, maravilhosas, para que economizem e deixem de pedir aumento de salários e vencimentos.
Muitos anos atrás as donas usavam vestido no mocotó, também dito osso gostoso, que ia até ao gogó. Por baixo desses cinco metros de fazenda botavam calça tipo samba-canção, abotoada dos dois lados, e por cima desse sungão bem fofo havia três anáguas, uma combinação e um corpete. Algumas usavam chapéu e luvas. Sinceramente, dificílimo que aparecessem as mãos e somente se viam pedaços do rosto. Uma vitória retumbante do machismo, que não permitia olhares profanos nas carnes de suas deusas.
Grande conquista esteve no fato de chegar o vestido ao meio da canela, pescoço de fora, manga meia quarta. Nos anos 20 Gabrielle Chanel modernizou certos aspectos da situação. Na década de 30, voltou-se um bocado à austeridade. Ombros almofadados. As filhinhas de Eva se masculinizaram.
Ainda perto de 1940, as meninas de Teresina eram acompanhadas, na rua, de dois ou três gajos sensuais, quando a calça samba-canção, primeira cobertura dos possuídos, marcava o vestido, atravessando as defesas naturais das anáguas e combinações. Para onde a garota ia, os macachás seguiam atrás, olhos cúpidos e boca aberta.
Durante a guerra de Hitler os vestidos se tornaram funcionais. De 1940 em diante, houve a revolução de Dior, que queria voltar a padrões antigos. Pernas escondidas. Feminilidade. Próximo dos anos 60 apareceu a moda unissex. E de 60 em diante, a estilista Mary Quant revolucionou a moda com a minissaia, que mostrava a perna toda. Chegou-se à era dos exploradores da moda. E a moda enlouquece as fêmeas. Calças boca-larga, cigarrettes, t-shirts, camisetas punk, santo Deus. Quantos processos novos se criam para que as mulheres gastem dinheiro a rodo. Cada dia mais explorada se vê a vaidade feminina.
Um dia o mulherio do mundo todo aderirá ao melhor dos espetáculos - abolição completa dos vestidos - e tudo voltará a fase de Adão e Eva, que só depois do pecado original cobriram as suas respectivas vergonhas. O nu já ganhou as praias e os carnavais por parte do elemento feminino. Falta apenas que elas, ditadoras hoje, decretem o peladismo generalizado. E podem. Pelo menos só gastarão com as despesas de plástica e com o arsenal de reboco do corpo e sobretudo das faces.
A. Tito Filho, 16/04/1988, Jornal O Dia
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