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domingo, 30 de janeiro de 2011

DOENÇA

Anízio Cavalcante, inteligência aprimorada, muito educa os desavisados nesta crônica que me manda de Niterói. Tenho as mesmas idéias que ele. Leiam as palavras que escreveu esse piauiense ilustre sob o título O HOMEM DOENTE DE PÓS-GUERRA. A doença do mundo está na desagregação moral da sociedade. Leiamos Anízio:

"A imprensa do sul do país anunciou em maio de 1985 que, na França e na Inglaterra, estavam sendo realizados dois congressos de psiquiatria para uma conceituação e diagnose clínica definitiva da neurose, da ansiedade e da angústia. [Jornal do Brasil, 5.maio.1985]

A profunda aceleração do ritmo da vida humana, depois da segunda grande guerra, terminada em 1945; a derrocada dos valores morais, que não foram substituídos por valores melhores; a descristianização das massas e, consequentemente, o seu embrutecimento e animalização; a conduta do individuo, já frequentemente bestial; os vícios, o consumo de drogas estupefacientes; em síntese, a desagregação física, psíquica, moral – graus supremos da desmoralização - transformaram o homem deste final de século vinte: despojam-no da estrutura psíquica normal, e, já agora, é atormentado pela instabilidade econômica do país, iniciada no ano de 1930.

A inquietação, a ansiedade, a angústia, que neles se instalaram, se manifestam com freqüência através de sintomas vazios: falta de concentração mental, sensação de irrealidade, medo de enlouquecer, temor de catástrofes, medo de assaltos, medo de tráfego, palpitações, perturbações gastrintestinais, insônia, roer de unhas, suores frios, pressão sanguínea alta, taquicardia, desemprego, medo de inflação, profissão não-amada, sensação de perda de status dos aposentados (chefias, comissões, diretorias, presidências, honrarias).

Como síntese de todas essas constatações psicológicas, podemos dizer: homem desgastado pelas estruturas sociais, que desmoronaram; pela rápida e incessante sucessão de fatos, que o ameaçam; perda grave do sentimento religioso, com a sensação de ser órfão adulto; tomado de desorientação, de instabilidade, insegurança; psiquicamente desagregado, eis o homem que não terá o prazer de comemorar, no ano de 1989, o segundo centenário da Revolução Francesa (1789), origem das repúblicas.

Os jornais destes dias atuais anunciam o aumento significativo de moléstias mentais e nervosas.

O leitor desta crônica é convidado a meditar sobre o que nela se descreve"


A. Tito Filho, 20/07/1988, Jornal O Dia

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