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segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

TOMBAÇÃO - III

Tombar significa cair, derrubar, mas também preservar o patrimônio artístico, enfim cultural das coletividades. Teresina tem sido destruída, perversamente, por motivos ambiciosos, ofendida na riqueza dos seus bens espirituais, dia por dia, em nome da ganância por dinheiro para a luxenta vida sem sentido, ou dos programas de governo apoiados sobre obras de fachada. Leônidas Melo sacrificou o antigo e bonito FÓRUM. Helvídio Nunes, para construir um vistoso conjunto administrativo desplanejado e torto, desalinhando a rua Rui Barbosa, arrasou a edificação de estilo neoclássico de ordem dórica denticular, feita em 1919, em que funcionaram a Fazenda, a Polícia, as Obras Públicas, a Faculdade de Direito, o Centro Telefônico. Sem dinheiro para concluir a aleijada programação, vendeu o arcabouço ao governo federal, que o aproveitou e terminou as obras para alojamento de órgãos fazendários.

E o SOBRADO DOS AZULEJOS AMARELOS, na rua Bela (Teodoro Pacheco), esquina da rua Boa Vista (Rui Barbosa)? Mandou construí-lo o fazendeiro José Félix Alves Pacheco, que não se trata do poeta simbolista do mesmo nome. Para os serviços veio mestre-de-obras de São Luís, que assentou os azulejos portugueses. Demoliram-no em 1969. No lugar se fez o espigão chamado Palácio do Comércio, destinado quase a aluguel de salas.

Se Alberto Silva levantou o ALBERTÃO, está de futebol sem platéia, o seu figadal inimigo Dirceu Arcoverde devia efetuar cousa igualmente monumental, e botou abaixo a velha penitenciária, um dos marcos do começo de Teresina, e levantou o Verdão determinando o fechamento de vias públicas com que mais uma vez se aleijava a cidade.

Desapareceu a casa de Antonino Freire. Os calçadões liquidaram a praça Rio Branco, recanto agradável de tradição.

João Mendes Olímpio de Melo, prefeito, deformou o Teatro 4 de Setembro no primeiro centenário de Teresina. A querida casa de espetáculos tinha de cada lado área ampla arborizada, de inconfundível beleza. Anularam-na e no lugar surgiu casa de bebidas e comidas arrendado a cidadão argentino que explorou quanto mais o ramo e nele enriqueceu. A estalagem passou a boteco de segunda classe com o correr dos anos. A imponente area plantada do outro lado foi cedida pelo prefeito Agenor Almeida a comerciantes que no local mandaram construir certa espelunca de dois andares. No térreo instalou-se venda de pastéis e bolos, na parte superior funcionava jogatina permanente.

O patrimônio cultural de Teresina, a sua dignidade, os seus valores tradicionais, o exemplo dos seus filhos humildes, os que, com trabalho e sacrifício, a construíram - esse patrimônio tem sido maltratado, insultado, descaracterizado, sob protestos de poucos, de alguns corajosos amigos deste xodó, deste bem-querer que José Antonio Saraiva confiou aos homens, na imensa fé de que a sua criatura maravilhosa haveria de ser respeitada, mas a verdade está em que Teresina sofre exploração de ambiciosos de dinheiro, ou a deformam administradores de mau senso.

Só a tombação resolve o problema. O Estado e o Município têm o dever de resguardar a memória do que no passado foram dignos de suas responsabilidades.


A. Tito Filho, 22/08/1988, Jornal O Dia

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