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sábado, 22 de janeiro de 2011

SAMPAIO - II

Iniciei ontem estas notas sobre o engenheiro Antônio José de Sampaio Castelo Branco. Termino-as hoje.

"Vieram-lhe as surpresas" - salientou Luís Mendes Ribeiro Gonçalves, seu correto biografo: "O transporte do material redundou em perigosa corrida de obstáculos a consumir energias, produzir canseiras, motivar retardamentos e provocar dispêndios imprevistos. A peleja teve de ser áspera e ininterrupta, desde o desembarque no porto de Floriano, onde não havia sequer um aparelho de suspensão, até a montagem. Foi preciso abrir estradas, construir pontes e pontilhões, desbastar rochas, escavar, movimentar e consolidar terrenos. Por fim, os edifícios se levantam, a água é captada e distribuída, as instalações se executam. As máquinas são postas em funcionamento, quebrando a monotonia daquelas paragens onde, antes, só o vento açoitava as folhas. A chaminé a atirar para o alto o seu penacho de fumaça, o vapor da caldeira a fazer vibrar o apito estridente a horas certas, a labuta dos currais, a atividade dos técnicos e auxiliares nas oficinas eram sinais de uma vida diferente que nascia rumorosa e promissora".

Chegaram as primeiras famílias italianas, que foram logo localizadas. "Mas - diz Luís Mendes Ribeiro Gonçalves - antes de se dedicarem ao trabalho efetivo, começam os reveses. Alguns dos colonos adoecem depois de comerem, desavisados, frutos silvestres venenosos, outros são acometidos de doenças tropicais, ainda outros, amedrontados, não se adaptam ao clima. Surgem reclamações e o conseqüente cortejo de dificuldades. Há intervenções diplomáticas, repatriação de emigrantes com pesadas despesas imprevistas. O lamentável desastre iria servir de descrédito a outras tentativas".

Antônio José de Sampaio continua, porém, a lutar, mas contra ele se colocam os políticos, que se utilizam de pressões financeiras, como muito bem sustenta o seu dedicado biografo, acima citado, que acrescenta: "Atordoado após trabalho dedicado e hercúleo, é obrigado a concordar com a encampação do contrato, transferido, sem demora, a políticos cobiçosos. E, desde então, tudo foi aos poucos se perdendo. Da opulência das antigas Fazendas Nacionais mostra-se hoje, no cenário vazio, apenas o que construiu Sampaio e ficou, como ruína, exposto aos desgastes do tempo".

Sampaio, além do português, dominava o francês, o inglês, o alemão e o italiano, línguas em que escreveu vários estudos sobre as riquezas naturais brasileiras e as indústrias nacionais no estrangeiro. Tornou-se célebre o seu livro a respeito do Piauí, publicado em ingles: "A general description of the State of Piauhy on the northern part of Brazil its natural resources , pasturagen, climate and salubrity with special reference to the cattle breeding compared with the conditions of the Argentine Republic and Australia" (1905). Parte da obra foi publicada pelo governo do Piauí (administração Pedro Freitas), em bem cuidada tradução a professora Maria Cacilda Ribeiro Gonçalves.

São eloqüentes e verdadeiras estas palavras com que Luís Mendes Ribeiro Gonçalves enaltece a personalidade de Sampaio, em trabalho muito criterioso: "Sampaio foi, incontestavelmente, um desses raros exemplares de homem de alta cultura, rasgados horizontes e esclarecidas idéias, em cuja objetivação se obstinava ao influxo de irreprimíveis energias criadoras. As amarguras, as vicissitudes, as contrariedades não o esbarraram. Até ser paralisado pela morte, em 1906, conservou sempre mais ardente, a fé no ideal irrealizado".


A. Tito Filho, 17/09/1988, Jornal O Dia

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