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terça-feira, 25 de janeiro de 2011

O VELHO CLUBE

Senhores da mais alta evidência, pelo dinheiro e pelo prestígio político e intelectual, fundaram a sociedade recreativa Clube dos Diários, no ano do centenário da Independência do Brasil, 1922. Coube a primeira presidência ao comerciante e proprietário Antônio Ferraz. Deu-se o baile inaugural a 31 de dezembro do mesmo ano, na casa residencial do negociante Antônio Campos, batizada de CAMPINA MODESTA. Disseram-me depois que a festa esteve maravilhosa. Presença da fina flor da alta roda, mulheres vestidas de muito luxo e beleza. Anotaram-se na crônica da época nomes prestigiosos de homens e suas famílias, como Matias Olimpio, Miguel Rosa, Valdivino Tito, Jarbas Martins, Mário Baptista, Evandro Rocha, Sotero da Silveira, Simplício Mendes, Antonino Freire, Heli Castelo Branco, Antônio Costa Araújo Filho, Heitor Castelo Branco, Álvaro Freire, Agripino Oliveira, Antônio Chaves, Dídimo Castelo Branco, Joel Oliveira, com destaque especial para o solteirão governador João Luís Ferreira e outros.

Em 1927, houve a festiva inauguração da sede própria, no terreno doado pelo governador Matias Olimpio, a mesma que atravessou os anos até hoje, e que, de vez em quando, sofria alterações para atendimento dos novos sócios que se filiavam ano por ano. A atual sede está aumentada mais ou menos da metade do que foi antigamente.

Tornou-se essa sociedade recreativa o centro social de intensa atividade. Era a instituição querida dos teresinenses. Deslumbrantes as suas festas dançantes. Muitos namoros, noivados e casamentos tiveram inicio nos seus salões. Homenagens a políticos, banquetes, recepções ainda hoje estão na lembrança da cidade. Carnavais formidáveis vivem na recordação permanente de velhos foliões. Ali se realizaram conferencias literárias e posses acadêmicas aclamadíssimas. Eleições de misses. Reuniões de objetivo vário.

Ainda na década de 60 o Clube dos Diários, apesar do nascimento e florescimento de outros grêmios, mantinha-se altivo, como uma relíquia, freqüentado por uma sociedade que já afrouxava os freios morais de homens e mulheres. A juventude entregava-se aos primeiros passos da contestação de costumes nas coletividades humanas.

Nos fins dos anos 60 e principio da década seguinte, a agremiação tão querida entrou em decadência e chegou ao estado que chegou, requentada pelos que apreciam o jogo noturno e madrugadino, por homossexuais dos dois tipos, garotos vadios, pivetes. Ainda algumas personalidades ilustres nela espairecem, chorando intimamente as recordações de um tempo romântico que não volta mais. O ambiente está hoje de sujeira e integral desagregação física, do solo ao teto. Sombra dorida de um passado de riqueza espiritual. Em tudo, os fantasmas dos que bailaram, cantaram e se divertiram na magia de um mundo maravilhoso que a imbecilidade dos homens maus não soube preservar.

Resta ainda, como vigilante do encantamento de outrora o antigo funcionário Marcelino Rocha, o popular Marcelino, com o seu bom comércio de comes e bebes, certamente de coração em lágrimas simbólicas pela morte do bem-querer de todos nós.

A desapropriação pelo governador Alberto Silva vingou o velho Clube das humilhações que tem sofrido, sempre clamando por uma justiça demorada.


A. Tito Filho, 19/06/1988, Jornal O Dia

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