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sábado, 8 de janeiro de 2011

ZONA DA MATA

Nas recentes apurações do pleito eleitoral de 15 de novembro, ouvi que alguns candidatos mal-votados nas urnas do centro e do subúrbio tinham esperanças de conquistar vitória com os resultados da zona rural.

Lembrei-me das eleições de 1945 e 1950 e dos velhos amigos Josípio Lustosa e Raimundinho Veras.

Em 1945, Josípio era ardoroso e ferrenho partidário da candidatura do major-brigadeiro Eduardo Gomes à presidência da República, apresentada pela antiga União Democrática Nacional. Companheiro constante de palestras sobre a campanha eleitoral eis Raimundinho Veras, cidadão estimado em Teresina, pelas virtudes do trabalho e da educação espiritual. Ambos, Josípio e Raimundinho, contavam como certa a vitória de Eduardo Gomes.

As eleições processaram-se no dia 02 dezembro de 1945. Quatro candidatos: Eduardo Gomes (UDN), Eurico Dutra (PSD), Iedo Fiúza (Partido Comunista) e Mário Rolim Teles (Partido Agrário).

Dizia-se que Eduardo Gomes seria o vitorioso em vários estados. E contava com a votação impressionante da chamada Zona da Mata, Minas Gerais.

Iniciadas as apurações, diariamente os rádios comunicavam os resultados: Eurico Dutra sempre na frente. Josípio, triste, viva animado por Raimundinho Veras:

- Josípio, tenha calma e confiança. Aguarde as apurações da Zona da Mata. Você vai ver o brigadeiro disparar...

Encerradas as apurações, Dutra estava eleito. Eduardo Gomes só ganhou no Rio de Janeiro (na época a capital do Brasil), no Ceará, na Paraíba e no Piauí.

Ano de 1950. Ano de eleições presidenciais. Candidatos fortes: Getúlio Vargas, Eduardo Gomes e Cristiano Machado.

Josípio Lustosa e Raimundinho Veras abraçaram de corpo e alma a candidatura de Eduardo Gomes. Eleições no dia 3 de outubro. A seguir, apurações: Getúlio na frente, disparado. E Raimundinho Veras para Josípio:

- Tenha calma, homem. Aguarde a Zona da Mata e você vai ver...

Josípio, triste, não se conteve:

- Olha, Raimundinho, vai-te pra pqp com esta conversa fiada de Zona de Mata. Esse brigadeiro não tem jeito. Com ele agora eu só vou pelas armas...

*   *   *

Zona da Mata era, segundo diziam, um reduto eleitoral da velha e rançosa União Democrática Nacional, partido que patrocinava a candidatura de Eduardo Gomes. Abriram-se duas vezes as urnas ali e nada. Eduardo perdeu sempre. Assim, em Teresina. Muito candidato viveu de esperanças na Zona da Mata, que pifou.


A. Tito Filho, 29/11/1988, Jornal O Dia.

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