Ano de 1956. Teresina vive constantes e graves problemas humanos e urbanísticos, sem esgotos, sem asfalto, água canalizada e energia elétrica escassas, mendicância generalizada, modesta rede hospitalar, moradias subumanas nos bairros sem transporte, infância desvalida, desnutrição, fisionomias envelhecidas pela fome. Pauperismo no Piauí todo, excetuada pequena parcela do povo. Subemprego e desemprego.
Pálida assistência aos abandonados começou no governo Leônidas Melo, na capital. Pouco se cuidava das tarefas assistenciais, exceto as de caráter paternalista, da esmola em dinheiro, sopas dos pobres, roupas velhas.
Existem ainda aspectos desafiadores, mas de vez em quando surgem espíritos fortes que os enfrentam e plantam as sementes de uma sociedade mais justa, para participação de todos nos bens primários da vida, como pregava João XXIII.
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Junho de 1956, Teresina acolhia novo arcebispo, vindo do Bispado de Petrolina, em Pernambuco, - Dom Avelar Brandão Vilela, alagoano de nascimento. No ano anterior havia morrido Dom Severino Vieira de Melo, pastor rigoroso, intransigente nas decisões e na defesa dos princípios morais a que os piauienses deveriam guardar obediência. Tão severo que recusou participação nas festas do 1º Centenário de Teresina porque do programa constava a exibição da artista Elvira Pagã, projetada pela nudez em público. Os mentores dos festejos recuaram e desistiram de contratá-la.
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Tardezinha, Dom Avelar mereceu homenagem dos teresinenses, em calorosa recepção. Orador de extraordinários recursos, o arcebispo disse que vinha pregar o Evangelho, cuidar das almas, confortá-las, mas pretendia humanizar a vida, assumindo as responsabilidades de dar assistência aos que desta necessitassem.
Aceitou os desafios. Lutou com os instrumentos da inteligência, da coragem e da fé. Instituiu a Faculdade Católica de Filosofia, para melhorar o magistério do ensino secundário, - obra educacional significativa; promoveu o 1º Congresso Eucarístico do Piauí, definindo diretrizes para o homem cristão; fundou a Rádio Pioneira, instrumento de comunicação permanente da Arquidiocese com a coletividade.
Não esqueceu a promessa de humanizar - e surgiu a Ação Social Arquidiocesana (ASA). - que se projetou nos bairros pobres e sofredores, por intermédio de centros de trabalho coletivo, de clubes de mães, de núcleos profissionalizantes. Os exemplos do pastor frutificavam: o governo dava os primeiros passos sérios na ajuda social aos desvalidos.
Indiferente aos resmungos e aos insultos de interesseiros sem entranhas, advogou a propriedade da terra para os que nela trabalham e labutam.
Combateu o bom combate. Consciências adormecidas pela rotina despertaram. Paciente, calmo, Dom Avelar distribuiu conselhos úteis e gestos de bondade. Suavizou padecimentos.
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Em maio de 1971, depois de quase quinze anos a serviço do Criador e da sua criatura, o Pastor amigo e sincero se despediu do Piauí, para o cardinalato na Bahia.
A Casa de Lucídio Freitas, que ele dignifica, junto ao Clero, lhe prestou as homenagens do agradecimento e da saudade, na palavra do presidente da instituição, relembrando as lições do Pastor verdadeiro. No agradecimento, afirmou o novo cardeal, que, ainda distante, na sede do seu novo pastoreiro, continuava, anos fora, solidário com os piauienses, nos instantes felizes como na hora dos sacrifícios.
Nos 50 anos de sacerdócio de Dom Avelar, que se comemoram com entusiasmo, a Academia Piauiense de Letras relembra as lutas do seu titular ilustre, em beneficio da dignidade do homem piauiense.
A. Tito Filho, 8-9/12/1985, Jornal O Dia.
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