AS PESQUISAS PARA A HISTÓRIA DO PIAUÍ, de Odilon Nunes, em 4 volumes, revelam a saga piauiense, dos primeiros tempos até o fim do período provincial, uma saga com gosto e sabor de tragédia.
Do volume inicial constam a pré-história, os primeiros contatos com a terra, os primórdios da colonização e dos currais, a ausência de disciplina legítima e os governos que deram começo à vida política. A narrativa abrange os índios, a matança destes, a sangueira, o genocídio, as lutas sem fim, as sesmarias, o Parnaíba, riozão famoso, o território imenso de população escassa. Uma vez escrevi que a história do Piauí, no princípio, está no pânico e no vácuo. Dias perigosos: o pânico. A volúpia mortífera das desgraças do meio: o vácuo. Odilon mostra e interpreta isto tudo. Neste ponto o seu extraordinário valor: análise dos episódios, causas e consequências. Domingos Afonso Mafrense e o xará Domingos Jorge Velho - sertanista e bandeirante - penetraram o Piauí com seus troços de gente, e colonizaram terras, senhores de sesmos e de latifúndios, de gado bovino de outras paragens. Sobre o primeiro não há dúvida. Com o outro, o paulista, baita de homem severo e truculento, indicam alguns historiadores e dizem que não passa de lorota a sua vinda ao Piauí, donde saiu para a matança dos Palmares, nas Alagoas.
Odilon estudou detidamente o fato em mais de um trabalho, anotou referencias a bandeiras paulistas que agiam nos sertões do São Francisco. Fim do século XVII. Admirável a ação dos catequistas. O Piauí torna-se cenário histórico empolgante. Já o bandeirante transmuda-se em curraleiro, encourado, nômade, solitário, individualista - são ensinamentos de Odilon. A riqueza era o gado e da rês se aproveitava tudo, a carne, os ossos, o tutano, bofes, cascos, couro, chifres, fezes, até o membro genital enorme do bovino; na panela, no cornimboque, nas liteiras, no gibão, nos arreios, em certos vasilhames de viagem, nas portas, nas calçadas. Muitos falaram dessa civilização do couro.
Sertão desconhecido, ignoto, temeroso. Dizem até que a famosa Casa da Torre, no litoral da Bahia, tinha duas faces, uma para o mar, vigiando piratas e inimigos, outra para as terras de perigos sempre fartos.
Até a independência, a história do Piauí se resume quase na história da pecuária. Bois, vacas, garrotes e bezerros apinhavam os lugares. Cada vez mais cresciam os rebanhos sem mercados. O vacum representava a moeda, o dinheiro. Inexistia patrão. O vaqueiro não era empregado, mas sócio nas reses, e escreveu páginas inesquecíveis na vida piauiense.
A. Tito Filho, 13 de novembro de 1987, Jornal O Dia.
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