Hoje, dia 5 de novembro, a lei determina que se comemore o Dia da Cultura, em homenagem ao nascimento de Rui Barbosa, em 1849. Os modernos estudiosos consideram cultura como o conjunto dos processos de vida de um povo - a língua, a religião, a dança, a música, a literatura, a higiene, a casa, o templo, a alimentação, o conhecimento cientifico, as idéias políticas, as crendices - tudo o que faz o comportamento social, os hábitos, os costumes, as gradações de conduta, não se excluindo o patrimônio arquitetônico sob preservação da própria sociedade organizada, do que resultam os tombamentos tão do gosto dos tempos modernos.
Tombar diz o mesmo que cair, derribar, baixar e outros tipos de ação, mas há outro verbo Tombar, que segundo os entendidos, se tira da famosa Torre do Tombo, de Portugal, onde se guardam arquivos valiosos da história. E neste caso significa arrolar, registrar e também, como inscreve Aurélio, colocam "o Estado sob sua guarda para os conservar e proteger bens móveis e imóveis cuja conservação proteção seja do interesse público, por seu valor arquipélago, ou etnográfico, ou bibliográfico, ou artístico".
Outros valores possuem os bens que devem ser tombados - o social, o político, o arquitetônico, o histórico.
No Brasil, a paisagem cultural dos bens imóveis durante anos esteve desprezada. A praia de Copacabana, no Rio, perdeu o lirismo de anos anteriores, quando a orla marítima era acompanhada de elegantes e bonitas casas de pavimento térreo e superior. Derribaram-se na mesma cidade o Tabuleiro da Baiana, pitoresco e cheio de novidades. Liquidou-se a tradicional Galeria Cruzeiro, ponto de encontro dos políticos. O Palácio Monroe, de elegantes linhas arquitetônicas, foi ao chão. Desapareceu o Palacete Hotel, famosa hospedaria de deputados, senadores e governantes das áreas federadas. E assim por diante. São Paulo tornou-se irreconhecível. A gostosa Belo Horizonte passou a cidade maltratada. Que dizer do Recife? De Fortaleza? Todos perderam o seu feitio em favor de um discutível progresso dito urbanístico e que serve a capciosos interesses de proprietários de terrenos.
Teresina figura mais um exemplo. Para a construção de hotel, Leônidas Melo destruiu o prédio do primeiro Tribunal de Justiça. A velha cadeia deu lugar ao ginásio coberto chamado Verdão. Nada ficou dos primeiros tempos de Teresina. Liquidou-se o Café Avenida - hoje o local de estacionamento de um hotel privado. Já se deformou a antiga residência, de arquitetura tradicional da cidade, que pertenceu a Anfrodísio Tomás de Oliveira. Da encantadora pracinha Pedro II resta o retrato permanente do pecado, na insolência do homossexualismo e da raparigagem farta. Que é da antiga Associação Comercial, de paredes externas de azulejo? Que é do mercadão, que o prefeito Agenor Almeida aumentou, tirando-lhe o aspecto dos primeiros dias, logo depois de fundada Teresina? A memória da cidade desconhece interesses personalisticos. Deve ter base numa consciência de cultura.
A. Tito Filho, 05/11/1987, Jornal O Dia.
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