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sábado, 29 de maio de 2010

TEMPO DE FRUTAS

Ninguém mais se lembra de Job Vial, de crônicas saborosas sobre esta Teresina deformada. Job Vial outro não se era Joel Oliveira, pesquisador, humorista, colecionador de estórias de gente e de bichos da cidade a que ele dedicava afeição permanente. Busquei-o agora nos meus arquivos e reli "Quintas e Quintais", numa das recordações de Joel - e nessa crônica está o teresinense preocupado com o cultivo das árvores frutíferas abundantes na capital piauiense - a cidade verde, hoje de matas derribadas e sem pés de frutas de colheita segura para as merendas fartas. Havia terrenos plantados por toda parte, e cada celeiro possuía denominação ligada a mulher do proprietário, como a célebre Lavinópolis, ou recebia nomes de cidades, a exemplo de Olinda, Petrópolis, ou nomes de terras distantes - Granada, Zurich, Catânia, ainda se lembravam santos, Tebaida, Betânia, - e por esta forma se conheciam dezenas de quintas e quintais de Teresina, de abundante produção de variadas frutas - goiaba, groselha, pitomba, carambola, banana, limão, figo, sapoti, laranja - e a laranja tinha variedade enorme e dava trabalho livrá-las dos pulgões, das brocas e de outros males. Quantos nomes de laranjas estão na lembrança da gente: a seleta, a bahia, o mimo-do-céu, pingo-de-ouro, natal, pêra, mel-rosa, da-china, tanja, lima, mandarim, cada uma melhor que a outra. Nos dias que correm ainda se encontram alguns tipos desses ricos alimentos cítricos. Já agora em 1987 sumiu-se o caju. Safra pequeníssima. O caju que nada custava a quem o comia, apanhando-o debaixo dos cajuais nas matas teresinenses, derribadas pelo machado das construtoras. O caju da castanha de que o índio se servia para contar a idade. Cada castanha, mais um ano de vida. Menina de castanha, sim, era menina prendada. Jogava-se castanha nas calçadas, sem lambança. O caju dava ainda a cajuada, a cajuína, o doce, o tira-gosto. O pequenino, o cajuí, tinha também seu emprego. Sumiu-se a manga, ou quase está a desaparecer: a de biquinho, a governadora, moscatel, a jambo, a vovó, a espada, a vista-alegre, a de leite - restam hoje a rosa, a lira, a de fiapo, a manguito-do-correio, por preços inacessíveis.

Joel Oliveira, o Job Vial das crônicas saborosas de antigamente, cultor do humorismo à inglesa, se vivo estivesse se decepcionaria com uma Teresina sem arvores frutíferas, a sua riqueza de antigamente - fartura das mesas pobres e da classe média, num tempo em que os pobres podiam viver e a classe média governava uma sociedade justa e decente.

A. Tito Filho, 12/12/1987, Jornal O Dia.

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