Ninguém mais se lembra de Job Vial, de crônicas saborosas sobre esta Teresina deformada. Job Vial outro não se era Joel Oliveira, pesquisador, humorista, colecionador de estórias de gente e de bichos da cidade a que ele dedicava afeição permanente. Busquei-o agora nos meus arquivos e reli "Quintas e Quintais", numa das recordações de Joel - e nessa crônica está o teresinense preocupado com o cultivo das árvores frutíferas abundantes na capital piauiense - a cidade verde, hoje de matas derribadas e sem pés de frutas de colheita segura para as merendas fartas. Havia terrenos plantados por toda parte, e cada celeiro possuía denominação ligada a mulher do proprietário, como a célebre Lavinópolis, ou recebia nomes de cidades, a exemplo de Olinda, Petrópolis, ou nomes de terras distantes - Granada, Zurich, Catânia, ainda se lembravam santos, Tebaida, Betânia, - e por esta forma se conheciam dezenas de quintas e quintais de Teresina, de abundante produção de variadas frutas - goiaba, groselha, pitomba, carambola, banana, limão, figo, sapoti, laranja - e a laranja tinha variedade enorme e dava trabalho livrá-las dos pulgões, das brocas e de outros males. Quantos nomes de laranjas estão na lembrança da gente: a seleta, a bahia, o mimo-do-céu, pingo-de-ouro, natal, pêra, mel-rosa, da-china, tanja, lima, mandarim, cada uma melhor que a outra. Nos dias que correm ainda se encontram alguns tipos desses ricos alimentos cítricos. Já agora em 1987 sumiu-se o caju. Safra pequeníssima. O caju que nada custava a quem o comia, apanhando-o debaixo dos cajuais nas matas teresinenses, derribadas pelo machado das construtoras. O caju da castanha de que o índio se servia para contar a idade. Cada castanha, mais um ano de vida. Menina de castanha, sim, era menina prendada. Jogava-se castanha nas calçadas, sem lambança. O caju dava ainda a cajuada, a cajuína, o doce, o tira-gosto. O pequenino, o cajuí, tinha também seu emprego. Sumiu-se a manga, ou quase está a desaparecer: a de biquinho, a governadora, moscatel, a jambo, a vovó, a espada, a vista-alegre, a de leite - restam hoje a rosa, a lira, a de fiapo, a manguito-do-correio, por preços inacessíveis.
Joel Oliveira, o Job Vial das crônicas saborosas de antigamente, cultor do humorismo à inglesa, se vivo estivesse se decepcionaria com uma Teresina sem arvores frutíferas, a sua riqueza de antigamente - fartura das mesas pobres e da classe média, num tempo em que os pobres podiam viver e a classe média governava uma sociedade justa e decente.
A. Tito Filho, 12/12/1987, Jornal O Dia.
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