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quarta-feira, 11 de agosto de 2010

A BOA TERESINA

Diga-se que UM MANICACA é romance da era pós-patriarcal. Já se vai enfraquecendo a autoridade do pai na família e no meio social.

Começa a ascensão da mulher como pessoa menos dependente do homem. Também se inicia a ascensão dos mais jovens como menos dependentes dos mais velhos. Verifica-se a crescente liberdade dos jovens. Acentua-se maior liberdade nas relações de amizade entre os sexos. Maior idealização de costumes urbanos. Linguagem mais solta na narrativa. Abrasileiramento das expressões, porque o romance se idealiza por intermédio de maior dialogação. Os temas de UM MANICACA tornaram-se mais livres de convenções.

Por que Abdias Neves escreveu com tanta virulência crítica contra a Igreja e contra o clero? Por que negou qualquer virtude e bem aos ensinamentos do Catolicismo, nesse romance em que, através do Dr. Praxedes, revelou suas idéias?

Em parte a responsabilidade coube a Escola do Recife: "Esta acentuada influencia, toda gente o sabe, predominou mais no Norte que no Sul do país, cuja mocidade saía da Escola de Direito de São Paulo, ao passo que a do Norte cursava a do Recife, campo aberto às idéias largamente movimentadas por Tobias Barreto e seus numerosos discípulos. Mas o positivismo de Augusto Comte e o evolucionismo de Herbert Spencer por toda parte impressionavam o pensamento especulativo, ou meramente teórico, o primeiro mais vivo e atuante entre a juventude das academias militares e o segundo nos moços saídos das escolas jurídicas".

Era uso então renegar a Cristo, negar a vida eterna, repudiar a fé em Deus. A reação religiosa expandiu-se por todo o país contra a excessiva paganização materialista.

Cremos que a violência de Abdias Neves contra a Igreja tenha nascido, em parte, do desespero, numa época da desilusão. Bacharel brilhante, culto, vivia numa cidade sem horizontes, obrigado inclusive a ganhar a vida no interior do Piauí. Só tempos depois, chegaria a fase fulgurante da existência: o Senado da República.

Abdias foi como todos os naturalistas. Escreveu o que ele pensou fosse a verdade, tomando emprestado à ciência não apenas o seu materialismo e determinismo, mas, também, a sua independência de julgamento. Assim: a) interessou-se pelo bruto que há no homem. b) seus tipos são de pouco intelecto. c) as suas criaturas geralmente são vazias. d) escreveu com pessimismo. e) remexeu cousas e lugares desagradáveis. f) revelou-se moralista ferido. g) concentrou-se no mundo exterior do homem. h) demonstrou aparente isenção de animo.

Enfim, fez o que Zola queria que o naturalista fizesse: agiu sobre os tipos, as paixões e os dados humanos e sociais do seu romance.


A. Tito Filho, 22/10/1989, Jornal O Dia.   

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