Quer ler este texto em PDF?

terça-feira, 17 de agosto de 2010

MESTRE ODILON NUNES II

Sertão desconhecido, ignoto, temeroso. Dizem até que a famosa Casa da Torre, no litoral da Bahia, tinha duas faces, uma para o mar, vigiando piratas e inimigos, outra para as terras de perigos sempre fartas.

Até a Independência, a história do Piauí se resume quase na história da pecuária. Bois, vacas, garrotes e bezerros apinhavam os lugares. Cada vez mais cresciam os rebanhos sem mercados. O vacum representava a moeda, o dinheiro. Inexistia patrão. O vaqueiro não era empregado, mas sócio nas reses, e escreveu páginas inesquecíveis na vida piauiense.

Nesses longínquos fins dos anos setecentos, o Piauí enfrentava problemas angustiantes de tardio povoamento, dificuldades de transportes, sem agricultura e sem escolas.

Não se esqueça a perversa matança da indiada aos magotes. João do Rego Castelo Branco liquidava todo tipo de índio: feto, recém-nascido, crianças, adolescentes, moço, maduro e velho. As estrepolias sangrentas desse exímio degolador ingressaram na história. Cumpria ordens dos conquistadores da terra e dos governantes. E cumpria-as sem um pitoco de remorso, alegre sempre.

Em Odilon admira a paciência na busca do documento, o documento que ele confere, examina, estuda e dele retira a verdade, para a narrativa segura e a análise esclarecedora.

O mestre dedica o 2º volume das suas investigações à independência.

A vila de Parnaíba deu o grito primeiro no Piauí, a 19/10/1822. A noticia chegou a Oeiras, sede do governo português na capitania, e logo o comandante das armas de Portugal, Fidié, seguiu com infantaria e artilharia do cabo-de-guerra luso, Manuel de Sousa Martins, dia 24 de janeiro de 1823, manhãzinha, proclamou a independência na capital e estabeleceu governo com a distinção das autoridades portuguesas.

Em Parnaíba, onde se aquartelou, Fidié teve tempo para disciplinar as tropas e receber material bélico do Maranhão. Fazia-se necessário retornar a Oeiras e retomar o governo. O comandante português marchou para alcançar Campo Maior - e aí, às margens do Jenipapo, vaqueiros e roceiros o aguardavam. Houve os primeiros choques. Ceifadas muitas vidas. Os nossos homens buscavam a morte. Portugal sofreu pesadas perdas. Retirou-se, em rumo do Maranhão. A luta no Piauí decidiria a unidade brasileira, pois Portugal queria dois Brasis: o do Norte, rico em gado, para ele; e o do Sul, pobre, de que os portugueses não faziam conta.


A. Tito Filho, 25/08/1989, Jornal O Dia. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário