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segunda-feira, 9 de agosto de 2010

OEIRAS (VII)

A antiga capital constitui cenário grandioso dos primeiros tempos do Piauí, cujos episódios se integram, desde Domingos Mafrense nos seus mundos desconhecidos e habitados de índios e bichos, até José Antonio Saraiva, mas enquanto os oeirenses se orgulham de seu passado e das suas relíquias, a ambição mercenária de teresinenses ruins e forasteiros famintos e o vil metal dilapidam Teresina, derribam prédios em que trabalharam e viveram homens de fibra, e levantam espigões, na cidade sem lei, sem costumes, e cospem na memória de Saraiva, insaciáveis, obtusos, por força da ganância perversa e do azinhavre dos cobres para a vida de luxo e estroinice.

Em Oeiras se registra o zelo da sagrada memória de cousas e de homens, e para tanto se criou o seu Instituto Histórico, cujas lutas e esforços merecem apoio, solidariedade e respeito, pobre, mas altivo e sério. Fundou-o Dagoberto de Carvalho Júnior, numa atitude de gratidão aos antepassados. Deu-lhe estrutura definitiva. Governou-o com pulso de sabedoria, solicito sempre, enquanto residiu no Piauí. Fixando-se no Recife, confiou-se a presidência da instituição a um talentoso discípulo de civismo e trabalho, Pedro Ferrer, tranqüilo, modesto, simples, diplomata, dedicado ao serviço administrativo e cultural de sua terra e do Piauí, desprovidos dos tolos e nocivos preconceitos regionais. Inteligente, redige com elegância e, se quisesse, poderia ser um cronista dos mais sensíveis da vida politica e sentimental de Oeiras, que lhe deve muito, sobretudo porque ele consagra um grande amor a cidade, um amor filial de muito xodó.

Tenho em Pedro Ferrer um bom amigo, e de outras amizades me envaideço, como a de Walburg Ribeiro Gonçalves, meu ex-aluno, estudioso, rico de triunfos na carreira profissional que escolheu, oeirense sempre.

Pedro Ferrer, o ex-prefeito B. Sá e o pequenino rabiscador destas linhas quase mal escritas, conseguimos que Luís Carlos Prestes visitasse Oeiras, tantos anos depois que a Coluna Prestes andou pelas paisagens da época na segunda metade dos anos 20. Tudo deu certo. Apoteótica a presença do Capitão célebre, que na cidade fez amigos e fabricou, e a soldadesca também, menino na barriga das cunhas pelos sítios dos arredores. B. Sá, o médico, o bom administrador, fez as honras da hospedagem. E senti de perto que a mocidade lhe dedicava respeito e estima, por virtude dos seus sentimentos humanitários. Homem sábio, enricado do prazer de governar bem, o bom prefeito.

Talvez o Instituto Histórico de Oeiras seja a mais firme e digna entidade de defesa da cultura do Piauí nas suas profundas raízes oeirenses. A antiga e querida ex-capital agora se tornou, pela lei dos homens, Monumento Nacional, o que dá orgulho na gente.


A. Tito Filho, 13/05/1989, Jornal O Dia.   

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