Em 1960, fui chefão do futebol no Piauí, interventor federal na Federação Piauiense de Futebol, armado de poderes ditatoriais. Havia em Teresina uns dez clubes, fora os do interior, Campo Maior e Floriano, se a memória está lembrada. Jogava-se no estádio Lindolfo Monteiro. Certos jogos não rendiam ao menos para o pagamento dos garotos apanhadores da bola saída de campo, os gandulas. Deliberei reduzir as agremiações teresinenses a seis, escolhendo aquelas da simpatia pública. E assim fiz. Os donos dos grêmios cassados, a bem do esporte, muito me ameaçaram de morte, mas nada me aconteceu. Ainda não chegara o tempo dessas vendetas, tão comuns neste fim de século.
Os clubes de futebol organizados recebiam subvenção mais ou menos gorda, anualmente, do Governo Federal, e nisto residia o motivo de entidades de todos os feitios, até de aleijados. E Teresina tem sido, ao longo do tempo assim: quando se inventa uma modalidade de ganhar dinheiro, dezenas e dezenas de idênticos estabelecimentos povoam a capital. Os proprietários de funerárias disputam de revólver em punho defunto pobre e rico. Há churrascarias por todos os cantos, como santo e negro na Bahia. Uma verdadeira praga de butiques. Motel dá na canela. Em cada esquina uma farmácia. Botecos são centenas.
Em 1918 fundou-se o primeiro clube de futebol na capital do Piauí, com o pomposo nome de TERESINENSE ATLÉTICO CLUBE, justamente o introdutor desse jogo entre nós - e como só existia uma entidade deu-se a disputa do primeiro jogo entre dois times da mesma sociedade esportiva, um chamado CORISCO e o outro PALMEIRAS, aquele constituído dos craques André (goleiro), Bastos e Abreu (beques), Wady, Artur e Curi (médios) e os atacantes Ferro, Mundico, Lourival, Álvaro e Sady. A outra formava-se com os jogadores Gonçalo, Jinvinha e Viana, Paulo, Emílio e Rubim, Medeiros, Pompom, Martins, Henrique e Gerson, - com a mesma distribuição de posições do anterior. Desses 22 heróis não sei dizer se existe algum vivo nem me lembro dos que cheguei a conhecer, salvo um dos beques do CORISCO, José Auto de Abreu, falecido antes dos anos 80, intelectual e político.
Depois da fundação do Teresinense Atlético Clube, surgiram, entre 1918 e 1920, mais as seguintes organizações futebolísticas:
- Militar Esporte
- Fundição Esporte Clube
- Tipográfico Esporte Clube
- Clube Republicano de Futebol
- Artífice Esporte Clube
- América Esporte Clube
- Piauí Esporte Clube
- Comércio Esporte Clube
- Belga Esporte Clube
e outros talvez cujos registros não me foi possível encontrar.
Quanta cousa em Teresina padece a saturação, naturalmente. A cidade torna-se farta, cheia de cousas do mesmo - clubes de alta-roda para exibição de vestidos das madamas, com recepções regadas a uísque, bolinhos para arrotos escondidos e cigarros de matar lentamente; pontos de táxi; jornais e revistas sebosos da Praça Pedro II; teatro de qualquer jeito no velho 4 de Setembro; estupro de garotas já bem sovadas de sexo e mais que se veja e anote para a monotonia da vida sem grandeza.
O futebol, como o carnaval, chegará ao ponto de saturação, como eu escrevi nos idos de 1975.
A. Tito Filho, 23/12/1987, Jornal O Dia.
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