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quinta-feira, 19 de agosto de 2010

GENTE E HISTÓRIA - I

José Expedito Rêgo é das mais expressivas vozes de nossa poesia. Os seus versos promanam de uma vigilante inteligência, aprimorada para compreender a vida e interpretar sentimentos. Conhece profundamente a arte poética e compõe o poema com rigor clássico, de inconfundível obediência às normas da versificação, como faz estrofes livres, mas subordinadas a bonitos ritmos e sobeja musicalidade. De vez em quando, busca os episódios históricos da sua acolhedora Oeiras, e os analisa na qualidade de mestre, assim da forma que desse vida e alma às cousas, aos entes que se foram. Conhece a língua literária e recolhe também a popular, estudando-as nas suas transformações e corruptelas.

O oeirense de sete costados relembra o passado da amada amante que com certeza bem se orgulha do filho grato e sincero às riquezas espirituais dos sítios em que nasceu o Piauí administrativo e cristão.

Esse especial sentimento amoroso faria de Expedito consagrado romancista de conteúdo nitidamente nordestino - e de modo particular piauiense, fixando-se nos homens que fizeram as páginas históricas de mais grandeza cívica do Piauí, e também revelando a paisagem social da antiga Oeiras, em largo período - o que vai do nascimento de Manuel de Sousa Martins até o declínio político daquele que governaria a província piauiense por quase vinte anos, com pulso seguro e firme, fiel aos princípios e ditames da sua fé: a ordem e a disciplina.

O Visconde da Parnaíba provocou um romance histórico admirável, sério, verdadeiro. Apresenta a mesma fabulação inesquecível de "... E o vento levou", mutatis mutandis. Misturam-se por vezes criaturas reais e irreais, mais aquelas do que estas. Quem conhece os fatos da vida de Né de Sousa, os antecedentes da independência do Piauí, o caráter de Manoel de Sousa Martins e a sociedade patriarcal da sua época, retira do livro a impressão correta de que José Expedito Rêgo representa um dos mais profundos doutores na história humana e social de Oeiras. E desfilaram neste romance o nascimento do futuro Visconde da Parnaíba, na Serra Vermelha, fazenda de gado de Né Martins, pai de Manoel de Sousa, e no principio são os hábitos e costumes: as parteiras e o uso da manteiga caseira para facilitar a saída do menino pelo caminho natural da mãe. O transporte de cadeirinha. As brincadeiras de fazer curral.


A. Tito Filho, 02/07/1988, Jornal O Dia.

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