Oeiras representa o mais importante centro cultural do Piauí, capitania e província que ninguém pode estudar nem compreender na ignorância do imenso patrimônio histórico e cívico da terra oeirense e dos que nela trabalham, viveram e vivem. No seu território começou a penetração dos vaqueiros corajosos, se edificaram os primeiros templos religiosos e as velhas casas estiveram povoadas pela liderança politica, os donos de gado e da riqueza que as reses proporcionavam nas lonjuras do sertão baiano de Capuame, depois das cansativas marchas no lombo dos cavalos e das gostosas refeições de carne-seca, farinha e rapadura. O boi era dinheiro. Comprava-se com o dito quadrúpede o riscado, o morim, os enfeites e os vidros de cheiro feminino. Do animal tudo se aproveitava, o couro, a carne, ossos, fezes, chifres, e dos machos até o enorme membro de reprodução.
O Visconde da Parnaíba preenche capítulos dos mais expressivos da história de Oeiras. Com ele José Expedito de Carvalho Rego, poeta amigo que enriquece a literatura piauiense de poemas bem feitos de perícia e arte, escreveu a narrativa romanceada da vida desse homem em que as qualidades superavam os defeitos. Vaqueiro e Visconde é o titulo do livro em que o extraordinário dono de gato e presidente da província aparece de corpo inteiro, desde que nasceu nos territórios de Jaicós, vindo ao mundo pelas hábeis mãos da parteira de confiança ajudada de manteiga de nata nos canais respectivos de saída do menino robusto. Obra-prima verdadeira, empolgante, em todos os pormenores, o nobre piauiense, Manuel de Sousa Martins, e o seu tempo de prestígio, como lei viva da terra e dos homens, e as concubinas desse sujeito fogoso, a politica plena de paixões, a sua casa residencial, onde recebeu em ceroulas, uma espécie de cueca até a batata da perna, o naturalista inglês George Gardner. Não esquece as melhores cenas familiares, nem o preparo do doce de limão, obra de ciência e arte das velhotas casadas nos tachos de cobre. As decisões corajosas do visconde, proclamador da independência do Piauí naquele crepúsculo matutino de 24 de janeiro de 1823. José Expedito Rego, simples, esquisito, sujeito de cara de poucos amigos, mas correto com os semelhantes, talvez não saiba que, no trabalho que escreveu, se revelou um dos melhores prosadores do Piauí, objetivo, real, com um poder de fixação de hábitos, costumes e tipos que espanta e se torna quase inacreditável. Expedito nasceu em Oeiras, para felicidade ambos.
Depois eu conto mais.
A. Tito Filho, 12/05/1989, Jornal O Dia.
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