Quer ler este texto em PDF?

terça-feira, 17 de agosto de 2010

MESTRE ODILON NUNES III

Lembre-se que no começo do século XIX o ouro, o diamante e o açúcar estavam em decadência. O Norte representava dois terços da atividade útil do Brasil. Se Fidié se mantivesse no Piauí, como queria D. João VI, Portugal dominaria o Norte e evitaria a vitória dos baianos, cortando-lhes o fornecimento de carne. Maranhão, Piauí e Pará formariam o Brasil Português, subordinado a Lisboa.

No 3º volume, Odilon estuda de modo profundo as causas da Balaiada e sobre o assunto apresenta impressionante documentação. Para ele, essa guerra violenta no Maranhão e Piauí resultou de um choque de culturas. As origens próximas da luta estavam na pratica perniciosa do recrutamento promovido pelo Exército, fazendo que pobres caboclos entrassem para o serviço das armas, longe da terra e da família. As causas sérias eram outras: as condições de ordem econômica geradoras de permanente miséria coletiva; a terra confiada a poucos; àqueles que representavam o regime político e que viviam de explorar o homem do interior; a fome e a estrutura social, o brasileiro esquecido e abandonado.

Finalmente, no 4º volume, Odilon Nunes realiza estudos sociais e políticos da maior relevância: as lutas partidárias, o processo educacional, o regime de trabalho, o crime e suas causas, a mudança da capital de Oeiras para Teresina, a guerra do Paraguai, a liberdade dos escravos, a colonização e aspectos culturais do Piauí. Pena que o ilustrado e honesto historiador esbarre na República.

Deduz-se que, no fim do século XIX, o Piauí parecia esmorecer: economia de subsistência, fontes de riquezas estagnadas, comércio e lavoura em grandes dificuldades, decadência da pecuária, tristes condições educacionais e culturais.

Pesquisa de probidade inatacável, são seguras as observações que Odilon Nunes reuniu nos 4 volumes sobre homens e episódios da história piauiense, com a ingente preocupação de elucidá-la e interpretá-la. Tem sido mestre incansável na busca de documentos de rara importância para a feitura da tarefa que se impôs. Bem disse dele José Honório Rodrigues: "Odilon Nunes é um pesquisador notável, fiel à verdade histórica, buscada nas fontes primárias, e um historiador que, pela obra paciente de relembrar o passado de um povo tão agravado, tão empobrecido, mas tão leal ao Brasil, em tantas conjunturas extremas, se coloca na vanguarda da historiografia estadual".

Faleceu Odilon Nunes, depois de legar ao Piauí uma obra brilhante e necessária. Pertencia a Academia Piauiense de Letras.


A. Tito Filho, 26/08/1989, Jornal O Dia. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário