Quando eu, menino, cheguei a Teresina, em 1932, ainda de calças curtas, a cidadezinha gozava de tranqüilidade nunca esquecida. Nada a perturbava. Tinha ruas calçadas, algumas, ou empedradas, e trilho para bonde, mas sem bonde.
Dois cinemas - um tipo poeira, o Royal, de bancos compridos, sem encosto - especialista em bangue-bangue, mas naquele tempo a gente não dizia bangue-bangue - era cinema de artista e bandido - cinema da molecada do meu tope; o outro, o Olímpia, estava destinado à alta-roda, ao soçaite de hoje. Ambos de filmes mudos - e lá me ia esquecendo - mudos, mas gesticulados, como se os gestos fossem a linguagem sonora - e às vezes é, ou pelo menos a transmite, até mais expressivamente. Cinema falado, musicado e sincronizado só em 1933.
E dois cabarés famosos no campo da vida airada: o "Cai Nágua", de madeira, perto do rio, mulherio de segunda categoria quase bofe, o da Rosa do Branco, de pegas vistosas freqüentado por gente alta, magistrados, comerciantes, abastados, filhinhos-de-papai.
Ainda em 1937, de longe eu olhava o "Cai Nágua", de madeira, que já não era um mistério para a minha buliçosa pouca idade, mas era permanente convocação.
A elegância da cidade, de noite, estava na praça Rio Branco - andança na praça, rapazes num sentido, moças noutro sentido. Namoro de olhos, olhares que falavam e diziam tudo.
Tomava-se, e muito, refresco de pega-pinto, diziam que (era) bom para os rins. Muita garapa de cana também.
A. Tito Filho, 24/01/1989, Jornal O Dia.
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