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terça-feira, 14 de setembro de 2010

ALARICO

Nesceu em São José das Cajazeiras, antiga Flores, hoje nobremente chamada Timon, nos derradeiros tempos do século passado, último dia de 1883. Fixou-se na cidade no começo deste atormentado século XX. Tornou-se comerciário, despachante aduaneiro e maritimo. Fundou escola para empregados no comércio e adotou muita atividade intelectual. Desprezou honrarias, vaidades e ambições. Viveu sempre na família, nas amizades conquistadas, nos caminhos da honradez.

Tinha formação filosofica. Pregou, em dezenas de preleções jornalisticas, o conhecimento espiritual claro, perfeito, digno de Deus e rigorosamente lógico.

Serviu-se da imprensa para difundir ensinamentos de sapiencia. Deus, para ele, dotou o homem de razão e liberdade moral e predestinou-o a membro de sua familia divina, imortal e eternamente feliz. Pela transcendencia das ideias, pelo equilibrio harmonioso da cultura, pela substancia que a informa, a obra de pensador de Alarico representa uma forte e gloriosa expressão de inteligencia. Estudou a inquietude do homem moderno, o canto de melancolia e o grito de desalento das massas, para concluir que o remédio dessa infinita tristeza do tempo estava em restituir a ele proprio o sentido do seu destino em Deus. Mais comovente a sensibilidade de Alarico como fonte inesgotável donde jorrava o imenso amor a todas as criaturas, porque a todas elas buscavam de braços abertos, em apelo fraterno.

A poesia desse esteta tem doçura melancólica e certo travo de desilusão magoada.

Jornalista, pensador, poeta, tres aspectos da atividade mental de Alarico, que comunica no que concebeu uma sensação de plenitude, de verdade, de beleza, que aproxima os homens de um destino de eternidade. Espalhar o bem foi das suas delícias intimas. Assim a vida inteira. Pregava e praticava. Doou-se aos semelhantes como as árvores e os astros, que concedem os frutos e a claridade.

Viveu quase sessenta anos em Parnaíba, como empregado de firma comercial e em seguida nos escritórios das agências das companhias estrangeiras BOOTH LINE* e HAMBURG AMERIKA LINE**, que muito o exploraram. Falava com facilidade o ingles e o alemão. Ainda exerceu as funções de despachante aduaneiro e vice-cônsul de Portugal.

Pertenceu a duas academias de letras - a Maranhense e a Piauiense.

Faleceu no Rio de Janeiro, [em] 1965.

Deixou ilustrada bagagem literaria, integrada de conferencias, poesias, narrativas, folclore, memorias, estudos filosoficos, sociologicos e teologicos. Publicou, entre outros, os seguintes principais trabalhos: "Discurso Maçônico", "Ode à Mendiga", "Cinema falado", "Exaltação à Beleza", "Nostalgia do Céu", "Oração Fúnebre", "Panegerico de um justo". Algumas obras jazem inéditas.

Narrador primoroso. Soube o oficio de escrever bem, com graça, elegancia e correção. As suas publicações tinham finalidade educativa e filantrópica.

Chamou-se Alarico José da Cunha.


A. Tito Filho, 06/04/1989, Jornal O Dia.  

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* Companhia de navegação inglesa fundada em 1866 para prestar serviços para as regiões norte e nordeste do Brasil, incluindo a Amazônia.

** Companhia de navegação alemã fundada em 1847. Prestava serviços similares aos da Booth Line.


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