Nestas crônicas despretensiosas e desajeitadas, escritas no dia-a-dia desta vida de intensas agitações, lembrei a figura ilustre de José Manuel de Freitas, piauiense de Jerumenha, e fiz referencia a alguns dos seus filhos vitoriosos, entre os quais João Alfredo de Freitas, nascido em 1862, em Teresina.
No Recife, no curso da Faculdade de Direito, dedicou-se a estudos filosóficos e literários, tornando-se um dos mais vigorosos espíritos do seu tempo.
Retornado a capital piauiense, desempenhou funções de promotor. Exerceu o jornalismo. Magistrado por pouco tempo no Maranhão. Retornando ao Recife, entregou-se à advocacia e ao magistério. Aí fundou, com Clóvis Bevilaqua, jornal de filosofia, jurisprudência e literatura. Conceituado professor de matemática. Doente, viveu em Garanhuns (PE) e Fortaleza (CE). Aparentemente readquiriu a saúde. Chefe de polícia do Rio Grande do Norte. Vieram-lhe contrariedades políticas. Depostos os governadores nos primeiros tempos republicanos, esteve preso. Readquiriu a liberdade, volveu ao Recife, onde faleceu a 1-1-1892.
Um dos mais brilhantes piauienses do século passado, somente em 1986 recebeu do prefeito Wall Ferraz a justa homenagem de ter o nome numa via pública da cidade onde nasceu esta criatura de José Antônio Saraiva, chamada Teresina.
O piauiense desconhece quase completamente os valores da sua história e da sua literatura. Um povo assim não vive, vegeta.
Inegável a ingente atividade intelectual de João Alfredo de Freitas, consagrado valentemente aos livros, para suprir falhas dos estudos anteriores. Conseguiu, como salientou Clodoaldo de Freitas, uma orientação cientifica séria e metódica, suficiente para abrir-lhe a porta e dar-lhe ingresso nos vastos domínios da filosofia e do conhecimento.
Publicou "Contentos", contos tirados do natural, de cenas enternecedoras, originais, assim como que, na opinião de Clodoaldo, poemas de amor não metrificados, idílios castos do coração; "Excursão pelos Domínios da Entomologia", importante trabalho sobre a formiga, que lhe valeu reputação no mundo cientifico, e o esmerado "Escorços de Etologia Entômica".
Saíram em jornal alguns capítulos do seu romance "Três Botões de Rosa". Editou ainda o substancioso e profundo livro intitulado "Lendas e Superstições do Norte do Brasil", pouco conhecido dos nossos estudiosos de folclore.
Infelizmente, o Piauí ignora os filhos que o honraram e enalteceram nos domínios da inteligência. Entregou-se nossa terra a rotina da publicidade de ídolos culturais de barro, gente que não resistiria a um ditado na escola da inesquecível mestre de primeiras letras, a virtuosa Sinhá Borges, do começo do século.
A. Tito Filho, 08/04/1988, Jornal O Dia.
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